A prática de enfermagem em contextos de saúde mental exige mais do que competência técnica. Exige escuta, presença e uma atitude profundamente ética.
Entre os desafios mais controversos está o uso de medidas restritivas, muitas vezes adotadas como último recurso para controlar situações de agitação, risco ou agressividade. No entanto, estas práticas levantam importantes questões sobre dignidade, autonomia e a própria essência do cuidar.
A coerção, mesmo que justificada em termos de segurança, pode provocar sofrimento psíquico, trauma e deterioração do vínculo terapêutico. Por isso, repensar os cuidados com base em estratégias preventivas e modelos centrados na pessoa é mais do que desejável — é uma necessidade clínica e humana.
O impacto das medidas restritivas: para além do controlo imediato
As medidas restritivas físicas, farmacológicas ou ambientais têm sido alvo de crescente escrutínio científico e ético. Estudos internacionais mostram que, embora possam reduzir o risco imediato de comportamentos perigosos, estão também associadas a:
• Aumento da ansiedade e retraumatização;
• Quebra da aliança terapêutica;
• Risco acrescido de lesões físicas e deterioração funcional;
• Desmotivação e exaustão dos próprios profissionais de saúde.
Para os enfermeiros, o uso da restrição implica frequentemente um conflito interno entre proteger e respeitar, entre intervir e preservar a liberdade. A formação contínua, a supervisão clínica e a promoção de alternativas seguras são fundamentais para resolver essa tensão.
Descalonamento verbal e ambientes terapêuticos: pilares da prevenção
A prevenção da coerção começa muito antes do episódio de crise. Está no ambiente que se cria, na relação que se constrói e nas palavras que se escolhem. O descalonamento verbal surge como uma das ferramentas mais eficazes na gestão de situações potencialmente violentas, permitindo:
• Reconhecer sinais precoces de tensão;
• Intervir de forma não confrontativa e empática;
• Reduzir o impacto emocional sem recorrer à força;
• Restaurar o controlo partilhado da situação.
Complementarmente, a existência de ambientes terapêuticos seguros, com rotinas claras, regras justas, espaços de escuta ativa e profissionais capacitados, contribui para diminuir a frequência e intensidade das ocorrências que habitualmente desencadeiam medidas restritivas.
Cuidar com humanização: responsabilidade e competência profissional
Humanizar os cuidados em enfermagem não significa romantizar realidades difíceis, mas sim escolher, sempre que possível, a via do diálogo, da prevenção e da responsabilidade partilhada. Significa acreditar que há alternativas seguras ao controlo coercivo e que o sofrimento psíquico pode ser acolhido com estrutura, não com imposição.
Adotar práticas não restritivas é, por isso, um ato clínico competente e um posicionamento ético. Cabe às instituições criar condições - formativas, organizacionais e humanas - para que os profissionais possam fazer essa escolha com segurança.
Webinário “Cuidados Humanizados em Enfermagem: Prevenção e Alternativas às Medidas Restritivas”
Nesta sessão serão abordados os seguintes temas:
• Contextualização sobre coerção e medidas restritivas;
• Impacto das medidas restritivas nas condições físicas, emocionais e éticas dos pacientes;
• Estratégias de prevenção da coerção e promoção de ambientes terapêuticos seguros;
• Princípios e técnicas do descalonamento verbal e exemplos práticos de resposta em crises.
Este será um espaço essencial para refletir, atualizar e consolidar uma prática de enfermagem mais ética, empática e eficaz.
Oferta formativa recomendada
Para profissionais que procuram aprofundar competências na humanização dos cuidados, o Instituto CRIAP recomenda o
Curso em Abordagem da Dor e Comunicação em Cuidados Paliativos, que desenvolve estratégias para lidar com sofrimento e complexidade, promovendo uma comunicação terapêutica com doentes, famílias e equipas.
Cuidar com humanidade é reconhecer que cada intervenção tem impacto - e que, na dúvida, a escuta é sempre o primeiro passo.
Saiba mais sobre as formações do Instituto CRIAP e contribua para uma prática de enfermagem mais ética, segura e transformadora.