O
Dia Nacional de Prevenção do Cancro da Mama, celebrado a 30 de outubro, é uma data de elevada relevância clínica e social. Criado com o propósito de reforçar a consciencialização sobre a importância da deteção precoce, este dia recorda que o tempo é, muitas vezes, o fator decisivo entre o diagnóstico curável e o avançado.
Apesar dos avanços da
oncologia moderna, o cancro da mama continua a ser o mais frequente entre as mulheres portuguesas, exigindo vigilância constante e uma abordagem multidisciplinar.
Para os profissionais de saúde, este dia é um alerta e um compromisso para educar, prevenir e acompanhar com rigor científico e sensibilidade humana.
O cancro da mama em números
O cancro da mama é, atualmente, um dos maiores desafios de saúde pública em Portugal e no mundo.
Segundo a
Liga Portuguesa Contra o Cancro, trata-se do tipo de cancro mais prevalente tanto a nível nacional como global, com um impacto expressivo na mortalidade feminina.
Em 2022, estima-se que tenham sido diagnosticadas cerca de 9.000 mulheres com cancro da mama no nosso país e que mais de 2.000 tenham perdido a vida devido à doença. Embora seja muito mais comum na mulher, importa recordar que cerca de 1% dos casos ocorre em homens, o que reforça a necessidade de vigilância em ambos os sexos.
Quando detetado precocemente e tratado de forma adequada, o cancro da mama apresenta taxas de cura superiores a 90%.
A prevenção, o rastreio regular e o diagnóstico atempado continuam, por isso, a ser as estratégias mais eficazes para aumentar a sobrevivência e preservar a qualidade de vida das pessoas afetadas.
Como o cancro da mama se desenvolve?
O cancro da mama tem origem numa multiplicação anómala e descontrolada das células mamárias, que deixam de responder aos mecanismos naturais de regulação do organismo. Estas células alteradas acumulam-se, formando um tumor maligno com potencial para invadir tecidos adjacentes e disseminar-se para outros órgãos (metástases).
Na maioria dos casos, a doença tem início nos ductos mamários, canais que transportam o leite até ao mamilo, ou nos lóbulos, responsáveis pela sua produção. Daí resultam os dois tipos mais frequentes: o carcinoma ductal e o carcinoma lobular.
Trata-se de uma doença multifatorial, influenciada por fatores hormonais, metabólicos e ambientais. Entre os principais estão a exposição prolongada a estrogénios, a idade avançada, o excesso de peso, o sedentarismo e o consumo de
álcool.
Que fatores aumentam a probabilidade de desenvolver cancro da mama?
As causas exatas do cancro da mama permanecem desconhecidas, mas a investigação científica tem identificado diversos fatores de risco que aumentam a probabilidade de desenvolvimento da doença. Conhecê-los é essencial para orientar a prevenção e a vigilância clínica.
O envelhecimento é o fator de risco mais relevante, a maioria dos casos ocorre em mulheres com mais de 50 anos. O historial pessoal ou familiar de cancro da mama também aumenta a vulnerabilidade, sobretudo quando já ocorreu doença numa das mamas.
Entre os principais fatores reconhecidos incluem-se:
• Idade superior a 50 anos;
• História familiar ou pessoal da doença;
• Alterações genéticas hereditárias;
• Excesso de peso e sedentarismo;
• Consumo regular de álcool e tabaco;
• Menstruação precoce (antes dos 12 anos);
• Menopausa tardia (após os 55 anos);
• Terapia hormonal prolongada.
A prevenção baseia-se em estilos de vida saudáveis e vigilância clínica periódica. A deteção precoce mantém-se como a forma mais eficaz de reduzir a mortalidade e melhorar a qualidade de vida.
Sintomas que exigem atenção
O cancro da mama pode manifestar-se de várias formas, muitas vezes de forma discreta, sobretudo nas fases iniciais. Reconhecer os sinais de alerta é essencial para garantir um diagnóstico precoce e melhorar o prognóstico clínico.
Entre os sintomas mais frequentes encontram-se:
• Nódulo mamário endurecido, fixo e, habitualmente, indolor;
• Alterações na pele da mama, como retração, espessamento, vermelhidão ou aspeto de “pele de laranja”;
• Modificações no mamilo, incluindo retração, descamação ou saída de líquido (especialmente sanguinolento);
• Aumento de gânglios axilares;
• Dor mamária persistente ou sensação de peso localizada.
Em alguns casos, o cancro da mama pode não apresentar sintomas evidentes, sendo identificado apenas através de exames de rastreio, como a mamografia. Por isso, é fundamental manter uma vigilância clínica regular, mesmo na ausência de sinais suspeitos.
A orientação dos profissionais de saúde é determinante: educar as pessoas para o autoconhecimento corporal, incentivar a auto-observação e garantir o encaminhamento célere sempre que surgem alterações suspeitas.
Cancro da mama no homem
O cancro da mama no homem é uma realidade pouco falada, mas com implicações clínicas relevantes. Apesar de representar apenas cerca de 1% dos casos totais, a sua subvalorização e o atraso no diagnóstico fazem com que muitos doentes sejam identificados em fases avançadas, quando as opções terapêuticas são mais limitadas.
Os homens possuem uma pequena quantidade de tecido mamário retroareolar, que pode sofrer alterações malignas semelhantes às das mulheres.
O nódulo firme e fixo por detrás do mamilo é o sinal mais comum, frequentemente acompanhado de alterações na pele ou descamação mamilar. Contudo, devido à ausência de rastreio sistemático e à menor suspeição clínica, estes sintomas são muitas vezes ignorados.
Os principais fatores de risco incluem o envelhecimento, níveis elevados de estrogénios, doenças hepáticas crónicas, exposição à radiação e história familiar de cancro da mama ou do ovário. Certas síndromes genéticas raras, como a síndrome de Klinefelter, também estão associadas a um risco aumentado.
O tratamento segue princípios semelhantes aos utilizados nas mulheres, mas exige uma abordagem adaptada, tendo em conta as diferenças anatómicas e o impacto psicológico acrescido que o diagnóstico pode ter no homem.
A falta de informação e o estigma social continuam a ser obstáculos significativos à deteção precoce.
Promover campanhas de sensibilização inclusivas, que integrem o sexo masculino nas mensagens de prevenção e rastreio, é fundamental para reduzir o número de diagnósticos tardios e garantir igualdade no acesso ao tratamento e ao acompanhamento oncológico.
A importância do rastreio
O rastreio do cancro da mama é a estratégia mais eficaz para reduzir a mortalidade e detetar a doença em fases iniciais, quando as possibilidades de cura são significativamente mais elevadas.
O objetivo do rastreio não é apenas identificar tumores, mas detetar alterações precoces, antes de surgirem sintomas clínicos evidentes.
Em Portugal, o
Programa de Rastreio do Cancro da Mama, promovido pela Liga Portuguesa Contra o Cancro, disponibiliza mamografias gratuitas a mulheres entre os 45 e os 74 anos, com um intervalo de 2 anos. Este programa tem demonstrado um impacto comprovado na redução da mortalidade e é reconhecido como uma das iniciativas mais consistentes na área da prevenção oncológica.
A mamografia continua a ser o exame de referência, pela sua elevada sensibilidade na deteção de lesões não palpáveis. Em situações específicas, pode ser complementada com ecografia mamária ou ressonância magnética, nomeadamente em mulheres com mamas densas ou maior risco individual.
Para além do rastreio populacional, importa reforçar o conceito de vigilância clínica personalizada, ajustada à idade, ao historial familiar e a outros fatores de risco.
A adesão ao rastreio deve ser constantemente promovida por todos os profissionais de saúde, através de educação em consulta, comunicação clara e encaminhamento sistemático.
O rastreio é, por isso, uma responsabilidade partilhada entre o sistema de saúde e cada cidadão.
Avanços na oncologia
A oncologia mamária tem evoluído de forma significativa nas últimas décadas, impulsionada pela investigação molecular, pela inovação tecnológica e pela integração de equipas multidisciplinares.
Hoje, o tratamento do cancro da mama é mais preciso, menos invasivo e centrado na pessoa.
Os avanços mais relevantes incluem:
• Terapias alvo que atuam especificamente sobre alterações celulares, reduzindo os efeitos adversos e aumentando a eficácia;
• Imunoterapia, que estimula o sistema imunitário a reconhecer e destruir as células tumorais;
• Cirurgia conservadora com margens de segurança mais controladas e reconstrução imediata da mama, melhorando a recuperação física e emocional;
• Radioterapia de precisão, que permite tratar o tumor poupando o tecido saudável circundante;
• Medicina de precisão, baseada em marcadores biológicos que orientam a escolha terapêutica de forma individualizada.
Outubro Rosa e o papel dos profissionais
Além da componente técnica, a humanização dos cuidados oncológicos tornou-se um pilar essencial. A integração de apoio psicológico, nutrição, fisioterapia e psico-oncologia permite uma abordagem mais completa e centrada na qualidade de vida da pessoa doente.
O
Outubro Rosa é um movimento global dedicado à prevenção e diagnóstico precoce do cancro da mama, simbolizando a união entre ciência, sensibilização e empatia.
Em Portugal, a campanha mobiliza instituições de saúde, autarquias e a Liga Portuguesa Contra o Cancro, promovendo rastreios e ações educativas junto da população.
Os profissionais de saúde têm um papel determinante neste processo. Cabe-lhes transformar conhecimento científico em mensagens claras e acessíveis, incentivar o rastreio regular e combater o estigma ainda associado à doença.
A sua participação ativa, seja em consulta, em formação ou em comunicação comunitária, reforça a confiança, a adesão e a literacia em saúde, pilares essenciais na luta contra o cancro da mama.
Formação especializada em oncologia
A formação especializada é fundamental para garantir uma resposta clínica eficaz e atualizada no cancro da mama. A rápida evolução da oncologia exige profissionais preparados, capazes de integrar conhecimento científico e sensibilidade humana.
A formação contínua em áreas como o diagnóstico precoce, a comunicação com o doente e o acompanhamento psicológico melhora a qualidade dos cuidados e reforça a confiança das pessoas tratadas.
Especialização Avançada em Psico-oncologia
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Formação em Psico-Oncologia prepara profissionais para compreender e intervir nos impactos psicológicos, sociais e comportamentais do cancro.
Foca-se na avaliação e intervenção psicológica, na comunicação em equipas multidisciplinares e no apoio ao doente e à família ao longo das várias fases da doença.
Aborda ainda os efeitos colaterais dos tratamentos, a prevenção e o papel da psicologia nos cuidados paliativos, promovendo uma abordagem mais humana e centrada na qualidade de vida.
Curso de Enfermagem Oncológica
A
Formação em Enfermagem Oncológica capacita profissionais para prestar cuidados especializados a doentes submetidos a quimioterapia e radioterapia, com foco na prevenção e gestão dos efeitos colaterais desses tratamentos.
Promove uma abordagem holística e centrada no conforto, reforçando a importância da comunicação terapêutica e do apoio em cuidados paliativos.
O curso enfatiza práticas baseadas na evidência que visam melhorar o bem-estar e a qualidade de vida dos doentes oncológicos ao longo de todo o percurso de tratamento.