Porque sabemos, mas não agimos: O que as Ciências Comportamentais revelam sobre a sustentabilidade

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Porque sabemos, mas não agimos: O que as Ciências Comportamentais revelam sobre a sustentabilidade

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Descubra como as ciências comportamentais explicam as barreiras psicológicas à ação climática e ajudam a promover comportamentos sustentáveis.

Mesmo com provas científicas sobre o impacto das alterações climáticas, muitas pessoas continuam a adiar mudanças no seu dia-a-dia. A reciclagem, o consumo responsável ou a poupança de energia são intenções frequentemente declaradas, mas raramente mantidas.

 

Mas porque é que, mesmo conscientes da crise climática, continuamos a agir como se houvesse tempo infinito?

 

A resposta não está apenas na falta de informação, mas na forma como o ser humano pensa, sente e decide.

 

As ciências comportamentais ajudam-nos a compreender esta discrepância entre o que sabemos e o que fazemos, revelando os mecanismos psicológicos que dificultam a adoção de um comportamento sustentável.

 

 

A Psicologia das Alterações Climáticas

 

A crise climática é também uma crise psicológica. A Psicologia Ambiental estuda como as nossas perceções, emoções e crenças influenciam a forma como lidamos com o ambiente e com os riscos associados às alterações do planeta.
Não é por acaso que muitas pessoas sentem ansiedade, culpa ou até negação quando confrontadas com notícias sobre o clima. Estes mecanismos emocionais são respostas humanas naturais perante ameaças complexas, difusas e globais.

 

Mas é precisamente por isso que a mudança climática não pode ser tratada apenas como um problema técnico ou científico, requer uma abordagem que integre o comportamento humano, os valores e a motivação.

 

Compreender como as pessoas processam a informação climática e o que as impede de agir é o primeiro passo para criar estratégias de intervenção eficazes.

 

 

Barreiras psicológicas que nos impedem de agir

 

Apesar de vivermos rodeados de informação sobre as alterações climáticas e os seus efeitos devastadores, o nosso comportamento diário raramente reflete a urgência do problema. A ciência comportamental tem demonstrado que não é a falta de conhecimento que nos impede de agir, mas sim um conjunto de barreiras psicológicas e emocionais que limitam a nossa capacidade de transformar consciência em ação.

 

 

Desconto temporal

 

O ser humano tende a valorizar muito mais as recompensas imediatas do que os benefícios a longo prazo, um fenómeno conhecido como “desconto temporal”.

 

Quando optamos por usar o carro em vez de transportes públicos, por exemplo, estamos a privilegiar o conforto imediato, ignorando o impacto cumulativo que essa decisão tem nas emissões de carbono.

 

Esta tendência faz com que problemas de longo prazo, como as alterações climáticas, sejam percebidos como distantes, mesmo quando as suas consequências já são visíveis. O desafio está em tornar o futuro mais “presente”, ligando as ações atuais às suas consequências reais e concretas.

 

 

Inércia: a força dos hábitos

 

Outra barreira poderosa é a inércia comportamental, isto é, a tendência para mantermos o que é familiar, mesmo quando sabemos que deveríamos mudar.
A mudança implica esforço mental, reorganização e, muitas vezes, desconforto. Por isso, preferimos continuar a agir como sempre fizemos: compramos os mesmos produtos, seguimos as mesmas rotinas, mantemos os mesmos padrões de consumo.

 

A inércia explica porque é que as boas intenções raramente se traduzem em novos comportamentos. É mais fácil continuar a adiar a mudança do que enfrentar o esforço inicial que ela exige.

 

 

Distância psicológica: o problema “dos outros”

 

As alterações climáticas são frequentemente percebidas como um problema distante no tempo, no espaço ou nas consequências pessoais.

 

Muitos acreditam que os efeitos mais graves ocorrerão apenas “no futuro”, “noutros países” ou “com outras pessoas”. Esta perceção, conhecida como distância psicológica, reduz o sentido de urgência e a motivação para agir.

 

A verdade é que quanto mais distante percebemos o problema, menor é a probabilidade de mudarmos o nosso comportamento.

 

 

Negação e evitamento emocional

 

Perante ameaças globais e complexas, muitos recorrem a mecanismos psicológicos de negação ou evitamento.

Falar sobre o clima pode gerar ansiedade, culpa ou impotência. Para se protegerem emocionalmente, algumas pessoas preferem minimizar o problema ou afastar-se dele.

Frases como “isso não vai acontecer comigo” ou “é tarde demais para fazer algo” refletem esta barreira.

 

 

Dissonância cognitiva: quando as ações não correspondem às crenças

 

A dissonância cognitiva ocorre quando existe um conflito entre aquilo em que acreditamos e o que realmente fazemos.

 

Por exemplo, alguém pode defender a proteção ambiental e, ao mesmo tempo, viajar frequentemente de avião.

 

Para reduzir esse desconforto interno, tendemos a racionalizar as nossas escolhas (“o meu impacto é pequeno”, “as empresas é que deviam mudar primeiro”).

 

 

Falta de normas sociais visíveis

 

As nossas decisões são fortemente influenciadas por aquilo que percebemos ser o comportamento dos outros.

 

Quando não vemos exemplos de comportamentos sustentáveis no nosso meio, supomos que eles não são a norma e isso reduz a motivação para agir.

 

Pelo contrário, quando as ações ecológicas são visíveis e valorizadas socialmente, tornam-se rapidamente contagiosas.

 

 

Nudges: o poder dos pequenos empurrões

 

Com base nestas descobertas, é possível criar estratégias simples que incentivam escolhas mais sustentáveis.
Os chamados nudges são “empurrões” subtis no ambiente de decisão que tornam a opção sustentável mais fácil, intuitiva ou socialmente desejável.

 

Alguns exemplos práticos são:

  • Tornar a opção “ecológica” a predefinida em contratos de energia ou em menus alimentares.
  • Mostrar ao consumidor o seu consumo comparado ao dos vizinhos, reforçando normas sociais positivas.
  • Simplificar o processo de reciclagem através de cores e localizações intuitivas.

 

Sem impor regras ou sanções, os nudges têm demonstrado resultados expressivos na redução do consumo de energia, aumento da reciclagem e adoção de comportamentos pró-ambientais.

 

São pequenas mudanças que, multiplicadas, produzem efeitos significativos.


 

Estratégias para promover comportamentos pró-ambientais

 

A ciência comportamental demonstra que transformar intenções em ação requer contextos que facilitem escolhas sustentáveis. Entre as estratégias mais eficazes destacam-se:

  • Feedback e recompensas imediatas: apresentar resultados concretos, como energia ou CO? poupados, reforça a motivação e o sentido de eficácia pessoal.
  • Compromissos públicos: declarar intenções ambientais perante outros aumenta a coerência e o cumprimento das ações.
  • Normas sociais positivas: divulgar exemplos de comportamentos sustentáveis cria influência social e normaliza a prática ecológica.
  • Educação emocional e cognitiva: integrar conhecimento e gestão emocional ajuda a compreender resistências internas e a consolidar hábitos duradouros.
  • Formação especializada: capacitar profissionais para aplicar estas estratégias em políticas, empresas e escolas amplia o impacto coletivo.

 

A mudança sustentável resulta da soma de pequenas decisões conscientes, apoiadas por sistemas e contextos que tornam o comportamento pró-ambiental mais simples, natural e recompensador.

 

 

O papel dos profissionais: transformar conhecimento em ação

 

A transição para um mundo mais sustentável requer profissionais preparados para compreender e influenciar comportamentos humanos.

 

Psicólogos, educadores, comunicadores e gestores têm hoje um papel determinante na promoção da sustentabilidade.

 

Ao aplicar o conhecimento das ciências comportamentais, estes profissionais tornam-se agentes de mudança, capazes de transformar barreiras em oportunidades e conhecimento em ação.


A sua intervenção é vital para construir uma sociedade onde a sstentabilidade deixa de ser uma opção moral e passa a ser uma prática quotidiana.

 

 

Webinário “Ciências Comportamentais e Sustentabilidade”

 

Inscreva-se no webinário Ciências Comportamentais e Sustentabilidade”, onde a Dr.ª Ana Rita Farias, Investigadora no Hei-Lab e especialista em Psicologia Social e Economia Comportamental, apresenta abordagens baseadas em evidência para ultrapassar as barreiras psicológicas à ação climática.

 

A sessão aprofunda temas como o desconto temporal, a inércia comportamental e o uso de nudges eficazes em contextos de consumo, mostrando como as ciências comportamentais podem contribuir para uma transição ecológica mais realista e participada.

 

É um convite à reflexão sobre como transformar intenções em ação e a ação em mudança duradoura. Garanta a sua incrição!

 

 

Especialização Avançada em Terapias Cognitivo-Comportamentais com Adultos

 

Para quem deseja aprofundar o domínio das abordagens comportamentais e aplicá-las no seu contexto profissional, a Especialização Avançada em Terapias Cognitivo-Comportamentais com Adultos oferece ferramentas práticas para compreender e modificar padrões de pensamento e ação.

 

Ao longo da formação, os participantes aprendem a analisar comportamentos complexos, desenhar intervenções ajustadas e aplicar técnicas cognitivo-comportamentais baseadas em evidência, competências que podem ser transferidas para qualquer área em que compreender e promover mudança seja essencial, incluindo a sustentabilidade.

 

 

O comportamento sustentável nasce de pequenas decisões que se acumulam ao longo do tempo. As ciências comportamentais mostram-nos que, quando o contexto é favorável e as barreiras são reconhecidas, o futuro torna-se mais próximo, e mais possível.