Eletroestimulação Aplicada à Disfagia

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Eletroestimulação Aplicada à Disfagia

A eletroestimulação compreende um importante recurso na prática fonoaudiológica em disfagia, sempre associada às demais técnicas e estratégias de reabilitação da deglutição. Deve-se ainda considerar os objetivos a serem alcançados na reabilitação da deglutição, as condições clínicas e funcionais de maneira individualizada. É imprescindível o conhecimento aprofundado da técnica para a adequada indicação, associação com as demais intervenções e interrupção do uso, caso seja necessário.

 

Disfagia - o que é?

 

A disfagia é uma condição que submete o indivíduo a constante instabilidade clínica, podendo ocasionar complicações como pneumonia aspirativa, desidratação, desnutrição e óbito. Devido a estas questões, este sintoma pode aumentar os custos dos cuidados de saúde com o indivíduo disfágico, bem como prolongar a duração da estada hospitalar. Desta forma, distintas tem sido as propostas para a reabilitação da disfagia orofaríngea pesquisadas ao longo dos anos e discutidas por alguns artigos de revisão.

 

 

Eletroestimulação - Método

 

A Eletroestimulação é um método não invasivo de aplicação da corrente elétrica, com finalidade terapêutica, capaz de produzir efeitos fisiológicos em determinados órgãos e sistemas, a depender da especificidade da corrente elétrica e objetivo terapêutico.

 

Em decorrência das cargas elétricas livres no organismo, o corpo humano mostra-se um bom condutor de eletricidade. Assim, a eletroterapia se baseia em diferentes recursos que utilizam a corrente elétrica para promover respostas fisiológicas e atingir objetivos terapêuticos. Os eletrodos são aplicados diretamente sobre a pele e o organismo será o condutor.

 

Existe uma diversidade de correntes que podem ser utilizadas na eletroterapia, cada qual com particularidades próprias quanto às indicações e contraindicações. Todas elas produzem algum efeito no tecido a ser tratado, obtido por meio de reações físicas, biológicas e fisiológicas. Com relação à segurança de uso, vale mencionar que os aparelhos de eletroterapia utilizados pelo fonoaudiólogo aplicam uma intensidade de corrente muito baixa (miliamperes e microampères). Alguns aparelhos contêm programas pré-selecionados que foram testados por outras áreas e podem não ser indicados para o uso fonoaudiológico, podendo ser prejudiciais.

 

A eletroestimulação faz cada vez mais parte da rotina do atendimento fonoaudiológico no contexto da reabilitação. Esta técnica é utilizada principalmente com o objetivo de promover e otimizar as funções oromiofuncionais, tanto para a referência do movimento, como para o ganho de força, em casos de hipofuncionalidade e/ou desuso, com efeitos metabólicos que são frequentemente negligenciados. Porém, o uso da eletroestimulação não se restringe apenas à condição de se produzir contração muscular, pode e recomenda-se que seja empregada também na estimulação sensorial e sensório motora.

 

 

Eletroestimulação em Disfagia

 

A eletroestimulação em disfagia pode ser empregada visando tanto a aplicação de um estímulo sensorial como o fortalecimento de músculos envolvidos na biomecânica da deglutição, sendo eficaz no aumento da propriocepção do movimento, no condicionamento da força muscular, na capacidade muscular aeróbica e anaeróbica, além do aumento da circulação sanguínea e favorecimento das aferências.

 

A eletroterapia pode não trazer nenhum benefício para o paciente, assim como qualquer outra técnica mal indicada e/ou utilizada. Porém, se aplicada da forma correta, com base nas melhores evidências científicas, a eletroterapia é uma poderosa aliada na reabilitação da disfagia de diversas patologias e disfunções.

 

Serão descritos a seguir três formas de aplicação da eletroestimulação na reabilitação das disfagias: sensorial, motor e sensório-motor.

 

 

  • Aplicabilidade do Estímulo Sensorial
     

O uso do estímulo elétrico em caráter sensorial tem sido cada vez mais aplicado na prática clínica da reabilitação das disfagias e começa a ser citado como objeto de estudo das pesquisas, principalmente em pediatria. Quando se refere que o estímulo elétrico aplicado é sensorial, significa que os parâmetros selecionados de frequência, duração e intensidade do mesmo não promovem contração muscular. A indicação deste tipo de eletroestimulação visa otimizar as aferências da região estimulada, de forma mais profunda, uma vez que o estímulo sensorial não será aplicado somente em superfície de tegumento ou mucosa. O maior exemplo de uso clínico da eletroestimulação sensorial é o de promover o aumento do alerta de cavidade oral, com possível e consequente aumento da frequência de deglutição, reduzindo assim o acúmulo de saliva ou alimentos nesta região.

 

  • Aplicabilidade do Estímulo Motor
     

A estimulação elétrica tem larga aplicação nos processos de reabilitação motora na fisioterapia, com transposição de seus principais princípios para a atuação na fonoaudiologia, em especial, para a disfagia. Tem sido recomendada como procedimento adjunto nas disfagias orofaríngeas em condições neurológicas, como em paciente após Acidentes Vasculares Encefálicos, na doença de Alzheimer, na doença de Parkinson, na Paralisia Cerebral e nas disfagias mecânicas.

 

Um dos principais objetivos relatados na literatura do uso da eletroestimulação de contração motora é a elevação laríngea durante a deglutição. Além deste indicador, também são mensurados resultados funcionais como melhora do nível de ingesta, redução de penetração/aspiração e da severidade da disfagia em alguns estudos, contrapondo-se à não diferença em outros estudos, quando comparados à terapia fonoaudiológica dita tradicional.

 

  • Aplicabilidade do Estímulo Sensório-Motor
     

A eletroestimulação pode também contar com uma aplicação denominada de sensório motora, que não apresenta condições mínimas de parâmetros de frequência, duração e intensidade de estímulo para promover contração muscular, como na programação motora, porém também não compreende somente um estímulo sensorial. Diferencia-se deste último por apresentar maior carga e com isso promover um estado de pré contração no grupo muscular da região aplicada. Durante a estimulação sensório motora são observados abalos musculares evidentes, sinalizando uma condição de pré contração muscular. Clinicamente observa-se que a aplicação deste tipo de estímulo promove aumento percetual e propriocetivo da região estimulada, com consequente favorecimento do desempenho funcional, sem risco de fadiga muscular, uma vez que não há ação contrátil.

 

Apresenta como exemplo de uso clínico a aplicação em condições nas quais há inervação deficitária com o objetivo de favorecer o “disparo” ou “induzir” a contração voluntária. Podemos incluir aqui condições de paresias musculares ou quadros degenerativos leves ou moderados. Ou ainda em condições com recuperação da condição motora voluntária ou em treino de ganho de performance.

 

 

Conclusão

 

A literatura científica a respeito do uso da eletroestimulação na reabilitação das disfagias é encontrada em um número de publicações desde a década de 90, porém tornando-se mais robusta a partir dos anos 2000. Apesar do bom número dos estudos, muitos deles com desenho metodológico bem definidos, ainda não é possível afirmar que a técnica apresenta comprovação científica da sua eficácia de uso na reabilitação das disfagias. Mesmo as publicações de maior nível de evidência científica – revisões de literatura com meta-análise, conseguem somente apontar o efeito positivo da técnica, porém, pela heterogeneidade dos estudos levantados, não é possível concluir quanto à sua eficácia

 

Mesmo sem o maior nível de evidência (meta-análise com homogeneidade), a hipótese de uso da técnica na reabilitação da disfagia, baseando-se nos princípios de eletrofisiologia no organismo, na observação clínica positiva de aplicação por fonoaudiólogos especialistas e nos estudos experimentais encontrados, afirma-se que a eletroestimulação é um recurso de efeito positivo e seguro na terapia fonoaudiológica em disfagia.

 

 

 

 

 

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Artigo da autoria de:
Bruno Guimarães

Terapeuta da Fala formado no Rio de Janeiro em 1983. Pioneiro no uso da técninca de eletroestimulação desde 1986 nas áreas da voz, deglutição e motricidade orofacial, é uma referência na área no âmbito nacional e internacional, com cursos ministrados na América do Sul e Europa, é igualmente autor de livros e artigos especializados em eletroestimulação.

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