À descoberta da Epigenética Forense

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À descoberta da Epigenética Forense

As potencialidades da epigenética no campo clínico e médico têm vindo a ser continuamente exploradas, existindo, atualmente, diversas terapias baseadas em fenómenos epigenéticos.

A epigenética não é uma disciplina recente. Teve a sua origem na década de 1940, sendo definida por Conrad Waddington como “the branch of biology that studies the casual interactions between genes and their products which bring the phenotype into being” (Wadington, 1942). Com o decorrer dos anos, foram surgindo várias outras definições na tentativa de englobar os diversos fenómenos epigenéticos que iam sendo descobertos.

 

As potencialidades da epigenética

 

As potencialidades da epigenética no campo clínico e médico têm vindo a ser continuamente exploradas, existindo, atualmente, diversas terapias baseadas em fenómenos epigenéticos. Recentemente, o poder da epigenética têm sido, cada vez mais, investigado em contextos forenses. Particularmente, a metilação de DNA, o fenómeno epigenético mais conhecido e melhor caracterizado, tem mostrado várias aplicações forenses, como a diferenciação entre gémeos monozigóticos, a distinção entre fluídos biológicos e a predição da idade. No caso da diferenciação entre gémeos monozigóticos, grande desafio para qualquer investigação criminal ou de paternidade, a análise dos níveis de metilação de DNA pode vir a ser uma mais valia, permitindo a identificação do gémeo em questão. Outra problemática muito importante em contextos forenses, a qual auxília as investigações criminais redirecionando os peritos e policiais no caminho da identificação, é a predição da idade. 


Várias abordagens (antropológicas, químicas, odontológicas, biomoleculares...) têm sido continuamente exploradas para estimar a idade do indivíduo, no entanto a abordagem epigenética, baseada na análise dos níveis de metilação de DNA, parece trazer os resultados mais promissores. Nomeadamente, desde o primeiro artigo desenvolvido por Bocklandt e colaboradores, em 2011, que o poder da epigenética e, particularmente, da metilação de DNA tem ganho um grande ênfase como uma nova ferramenta forense para a estimativa da idade do indivíduo. Desde então, vários estudos foram surgindo evidenciando o desenvolvimento de diversos modelos de predição de idade (APMs, Age Prediction Models) em vários tecidos, como sangue de indivíduos vivos (Bekaert et al., 2015; Hamano et al., 2016; Correia Dias et al., 2020a, 2020b) e de indivíduos mortos (Bekaert et al., 2015; Hamano et al., 2016; Correia Dias et al., 2019; Correia Dias et al., 2020b), sémen (Lee et al., 2018), esfregaços bucais (Pfeifer et al., 2020; Koop et al., 2020), dentes (Bekaert et al., 2015; Giuliani et al., 2016; Márquez-Ruiz et al., 2020; Correia Dias et al., 2020c), ossos (Gopalan et al., 2019; Correia Dias et al., 2020c) e, mais recentemente, cabelo (Hao et al., 2021).

 

Têm também surgido estudos que mostram o desenvolvimento de APMs para diversos tecidos em conjunto os designados multi-tissue APMs, que são uma ferramenta bastante promissora e prática para aplicabilidade em laboratórios forenses, como é o caso do BBT-APM (Blood-Bone-Tooth APM), proposto em 2021, e aplicável em amostras de sangue, ossos e dentes (Correia Dias et al., 2021). 

 

Há ainda um longo caminho por percorrer até os fenómenos epigenéticos, e particularmente, a metilação de DNA se tornarem reconhecidos e utilizados em laboratórios forenses. Por exemplo, para a implementação de APMs em contextos forenses de identificação vários aspectos têm de ser tidos em conta, como a especificidade tecidual da metilação de DNA, as diferenças populacionais, as diferenças entre sexos, e certas diferenças laboratoriais e técnicas na análise da metilação de DNA. Todavia, nos últimos anos, várias investigações têm vindo a ser feitas nesta área, e com pequenos passos se chega a grandes conquistas científicas, por isso espera-se que num futuro, não muito longínquo, a Epigenética Forense possa vir a ser reconhecida como um método de identificação.   

 

 

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Artigo da autoria de:
Helena Correia Dias

Doutorada em Antropologia Forense pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. Licenciada em Biologia pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra e Mestre em Medicina Legal e Ciências Forenses pela Faculdade de Medicina da supracitada Universidade. Tem o Curso Superior de Medicina Legal da Delegação do Centro do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forense e a Pós-Graduação em Antropologia Forense da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. Desde 2016, é membro do Centro de Investigação em Antropologia e Saúde, do Centro de Ecologia Funcional e do Laboratório de Antropologia Forense do Departamento de Ciências da Vida da Universidade de Coimbra.

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