voltar atrás
Concussão Cerebral: Avaliação Clínica e Sintomas a Reconhecer
Conheça os sintomas mais comuns da concussão cerebral, saiba como é feita a avaliação clínica e qual a importância da intervenção precoce para uma recuperação segura.
A concussão cerebral é classificada como uma lesão cerebral traumática ligeira (mTBI), mas a designação “ligeira” não deve ser confundida com ausência de gravidade clínica.
Estudos recentes têm reforçado que, mesmo em casos aparentemente benignos, podem ocorrer alterações metabólicas significativas ao nível neuronal, incluindo disfunções iónicas, alteração no metabolismo da glicose e redução temporária da perfusão cerebral.
Do ponto de vista clínico, a concussão deve ser entendida não apenas como um evento isolado, mas como parte de um continuum de disfunção neurológica, cuja evolução depende de fatores como idade, historial de concussões prévias, tempo de repouso e adequação do acompanhamento.
Nos profissionais de saúde, a dificuldade não está em reconhecer os sintomas clássicos, mas os padrões subtis e as manifestações tardias.
Muitos pacientes não relatam perda de consciência, e cerca de 80–90% recuperam no prazo de 14 dias. No entanto, 10 a 20% evoluem para sintomas persistentes (síndrome pós-concussional), caracterizados por cefaleias crónicas, défices cognitivos e alterações emocionais.
A prática clínica deve centrar-se em identificar:
O desafio está em diferenciar sintomas transitórios de sinais que antecipam a evolução para um quadro crónico.
A avaliação de concussão deve ir além da anamnese e do exame neurológico de rotina. Hoje, existem ferramentas validadas internacionalmente que permitem padronizar o diagnóstico:
Para além das escalas, é cada vez mais recomendada a avaliação multimodal, combinando análise clínica, testes cognitivos computadorizados e biomarcadores emergentes (como GFAP e UCH-L1, já aprovados pela FDA para triagem em TCE).
No desporto, a principal dificuldade não é o diagnóstico em si, mas a pressão para o regresso rápido à competição. Protocolos como o Return-to-Play devem ser aplicados de forma criteriosa, mas na prática clínica frequentemente se observa uma antecipação dos prazos, com riscos evidentes de second impact syndrome.
Fora do contexto desportivo, um dos maiores desafios está no idoso, em que concussões ligeiras podem ser facilmente mascaradas por alterações cognitivas pré-existentes ou polimedicação. Nestes casos, a avaliação requer maior rigor e, muitas vezes, acompanhamento em contexto hospitalar.
A não deteção ou desvalorização da concussão pode conduzir a consequências de elevada morbilidade:
Na prática clínica, isto exige protocolos de follow-up estruturados, com reavaliações em 48 horas, 7 dias e, em casos persistentes, ao longo das semanas seguintes.
A reabilitação não deve ser entendida apenas como repouso. O modelo atual defende uma abordagem ativa e gradual:
A fisioterapia vestibular tem mostrado eficácia comprovada em casos de tonturas persistentes. A reabilitação cognitiva, com treino de memória de trabalho e atenção sustentada, também apresenta benefícios em pacientes com défices prolongados.
Em termos neurobiológicos, a reabilitação aproveita os mecanismos de neuroplasticidade, potenciados por estimulação gradual e contextualizada. O grande desafio para o profissional é encontrar o equilíbrio entre repouso suficiente e estimulação precoce.
O Instituto CRIAP promove a conferência internacional “Avaliação do Paciente com Concussão Cerebral”, conduzida pelo Dr. Juan Francisco Donoso Hurtado — fisioterapeuta especializado em fisioterapia vestibular e reabilitação de concussões cerebrais, com ampla experiência clínica e formativa a nível internacional.
Nesta sessão serão explorados conceitos essenciais para a compreensão da concussão cerebral, os principais mitos, os sinais e sintomas a que os profissionais devem estar atentos e a aplicação prática da escala SCOAT6 na avaliação clínica.
Para profissionais que pretendem aprofundar os seus conhecimentos na interseção entre neurociências e fisioterapia, o Curso em Neurociências Aplicadas à Fisioterapia oferece uma compreensão detalhada do funcionamento do sistema nervoso e da sua aplicação prática na avaliação e intervenção, com foco na neuro reabilitação, otimização do movimento e promoção da neuroplasticidade.
Reconhecer e avaliar corretamente uma concussão cerebral é proteger a integridade neurológica do paciente e criar as condições para uma recuperação plena e é neste rigor que se constrói a diferença entre um tratamento bem-sucedido e complicações evitáveis.