Dia Mundial da Segurança do Doente: o compromisso com cuidados seguros

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Dia Mundial da Segurança do Doente: o compromisso com cuidados seguros

No Dia Mundial da Segurança do Doente refletimos sobre práticas essenciais para reduzir riscos em saúde como a gestão de risco, comunicação eficaz e envolvimento de doentes e famílias na prestação de cuidados seguros.

O Dia Mundial da Segurança do Doente, assinalado a 17 de setembro, é um lembrete de que, por detrás de cada diagnóstico, prescrição ou intervenção, existe uma pessoa que confia plenamente em quem a trata.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) instituiu esta data para dar voz a um tema urgente. Reduzir danos evitáveis nos cuidados de saúde. O objetivo é garantir cuidados seguros para todos.
 
 

O que significa segurança do doente?

 
A segurança do doente traduz-se na capacidade de garantir que os cuidados de saúde são prestados com o mínimo de risco possível, evitando danos desnecessários que possam resultar de falhas humanas, técnicas ou organizacionais. Para os profissionais, significa integrar práticas baseadas em evidência, utilizar protocolos claros, monitorizar continuamente processos e aprender com os incidentes. Não se trata apenas de evitar o erro, mas de construir uma cultura clínica em que a prevenção, a vigilância e a responsabilidade coletiva são parte integrante da prática diária.
 
 

De que forma é que os profissionais de saúde podem garantir essa segurança?

 
Garantir a segurança do doente é uma responsabilidade que atravessa todas as áreas clínicas e que exige compromisso diário por parte dos profissionais de saúde. É necessário incorporar uma atitude de vigilância permanente e uma cultura de prevenção. Eis alguns eixos fundamentais:
 
1. Cumprimento rigoroso de protocolos e normas clínicas
A padronização de procedimentos reduz a margem de erro. Protocolos de higiene das mãos, check-lists cirúrgicos, regras de administração de medicamentos e circuitos de esterilização são exemplos de práticas que salvam vidas quando seguidas com consistência.
 
2. Comunicação clara e estruturada
Grande parte dos incidentes resulta de falhas na comunicação. A passagem de turno, o registo clínico e o diálogo interdisciplinar devem ser objetivos, completos e livres de ambiguidades. Modelos como o SBAR (Situação, Background, Avaliação, Recomendação) ajudam a uniformizar a transmissão de informação crítica.
 
3. Validação em equipa
A prática clínica deve valorizar a dupla verificação em momentos críticos, como a administração de fármacos de alto risco ou a identificação do doente antes de uma cirurgia. Trabalhar em equipa não é redundância: é barreira de segurança.
 
4. Formação contínua
A atualização de conhecimentos permite integrar novas evidências, tecnologias e metodologias na prática. A formação em áreas como gestão de risco em saúde ou medicação segura é essencial para reduzir vulnerabilidades no sistema.
 
5. Envolvimento do doente
O doente deve ser considerado parceiro ativo. Incentivar a partilha de dúvidas, confirmar dados de identificação e explicar o plano terapêutico não só aumenta a confiança como evita erros clínicos por omissão ou mal-entendidos.
 
6. Cultura de reporte sem punição
Garantir segurança implica reconhecer que erros acontecem. O ambiente institucional deve encorajar o reporte de incidentes e quase-incidentes, não como falhas individuais, mas como oportunidades de melhoria do sistema.
 
7. Uso criterioso da tecnologia
Sistemas eletrónicos de prescrição, alarmes de interação medicamentosa, registos digitais e check-lists eletrónicos são ferramentas que apoiam a decisão clínica. Cabe aos profissionais utilizá-las de forma crítica, sem perder de vista o julgamento clínico.
 
Os profissionais de saúde garantem a segurança do doente quando aliam conhecimento técnico a uma prática vigilante, colaborativa e centrada na pessoa. É esta combinação que transforma cuidados em confiança e resultados em vidas preservadas.
 
 

Portugal e o compromisso com a segurança em saúde

 
O Plano Nacional para a Segurança dos Doentes marca um avanço decisivo na forma como Portugal encara a qualidade dos cuidados. Mais do que um documento técnico, funciona como guia estratégico para hospitais, centros de saúde e unidades privadas. Define áreas prioritárias de intervenção, como a prevenção de infeções associadas a cuidados de saúde, o uso seguro de medicamentos, a adoção de práticas cirúrgicas seguras e a melhoria da comunicação entre profissionais e doentes. Ao alinhar-se com os padrões internacionais definidos pela Organização Mundial da Saúde, este plano traduz-se na redução de riscos e na garantia de que cada doente recebe cuidados em ambiente mais seguro e confiável.
 
 

Gestão de risco em saúde: antecipar falhas

 
A segurança do doente não depende apenas da reação a incidentes já ocorridos. O verdadeiro desafio está em antecipar riscos antes que estes se transformem em danos reais. É aqui que a gestão de risco em saúde assume um papel central.
Este processo começa com a identificação de pontos vulneráveis em todo o percurso do doente: desde a admissão, passando pela realização de exames, até à alta hospitalar. Cada etapa deve ser analisada para detetar onde existe maior probabilidade de erro ou complicação.
 
Depois, segue-se a avaliação da gravidade e da frequência dos riscos, definindo prioridades de intervenção.
Não se trata de eliminar todos os riscos mas de reduzir ao mínimo os que podem comprometer a segurança clínica.
 
Entre as estratégias mais eficazes incluem-se:
• Auditorias clínicas internas para avaliar conformidade com protocolos.
• Análise de incidentes e quase-incidentes, extraindo lições para melhorar processos.
• Planos de contingência, que permitem resposta rápida a situações inesperadas, como falhas de equipamento ou surtos infecciosos.
• Formação regular das equipas, para reforçar competências em prevenção e resposta a riscos.
 
 
A gestão de risco em saúde não é uma tarefa de um departamento isolado, mas uma responsabilidade transversal. Quando bem implementada, cria sistemas mais resilientes, aumenta a confiança dos doentes e protege os profissionais de situações adversas que poderiam ter sido evitadas.
 
 

A comunicação como ferramenta clínica

 
A comunicação na saúde deve ser entendida como parte integrante do ato de cuidar, tão essencial quanto a técnica ou a medicação administrada.
 
Entre profissionais de saúde, a comunicação estruturada evita erros em momentos críticos. A passagem de turno, a transmissão de resultados laboratoriais ou a coordenação em situações de urgência só são eficazes quando a informação é clara, objetiva e completa.
 
Nos registos clínicos, a uniformização e atualização em tempo real são igualmente cruciais. Anotações incompletas ou termos pouco claros podem originar falhas de medicação, atrasos em procedimentos ou diagnósticos incompletos. A precisão documental é, portanto, um ato de responsabilidade clínica.
 
Na relação com o doente e a família, a comunicação exige outro cuidado: adaptar a linguagem. Explicar um plano terapêutico em termos acessíveis, esclarecer dúvidas sobre efeitos secundários ou reforçar cuidados a ter após a alta aumenta a adesão ao tratamento e previne complicações.
 
A comunicação eficaz é um ato clínico com impacto direto na segurança, na confiança e nos resultados em saúde. Reconhecê-la como ferramenta clínica é dar o devido valor a uma prática que, embora muitas vezes invisível, pode ser determinante para salvar vidas.
 
 

Envolver doentes e famílias nos cuidados

 
A segurança em saúde não depende apenas dos profissionais ou das instituições. O envolvimento do doente e da família é hoje reconhecido como uma dimensão essencial para prevenir erros e melhorar resultados clínicos. Quando são incluídos como parceiros ativos, deixam de ser recetores passivos de cuidados para se tornarem elementos centrais do processo terapêutico.
 
A participação começa em aspetos simples, mas decisivos como confirmar a identidade antes de um procedimento, rever a medicação prescrita ou alertar para sintomas inesperados. Estes passos podem evitar lapsos graves. Ao mesmo tempo, o esclarecimento de dúvidas e a compreensão clara do plano terapêutico aumentam a adesão ao tratamento e reduzem complicações.
A família tem um papel complementar. Para além do apoio emocional, é frequentemente a responsável por garantir a continuidade dos cuidados no domicílio. A sua participação é vital na administração correta de fármacos, na vigilância de sinais de alerta e no cumprimento de recomendações clínicas após a alta hospitalar.
 
Incluir o doente e a família exige tempo, disponibilidade para ouvir e uma comunicação clara. Mais do que uma formalidade, trata-se de uma estratégia de segurança. Um doente informado e uma família envolvida ajudam a identificar falhas, reforçam a confiança no sistema de saúde e contribuem para decisões mais partilhadas e responsáveis.
 
A verdadeira segurança constrói-se em rede, e essa rede só é completa quando doentes e famílias são reconhecidos como parceiros indispensáveis no cuidado.
 
 

A formação como reforço na segurança do doente

 
A segurança do doente é um compromisso que exige atualização constante de conhecimentos. A prática clínica evolui, os riscos transformam-se e as exigências do setor da saúde tornam a formação contínua indispensável.
Para os profissionais que desejam aprofundar competências nesta área, destacamos duas formações que complementam de forma prática os temas abordados:
 
 

Curso Avançado em Gestão de Risco na Saúde

 
O Curso Avançado em Gestão de Risco na Saúde prepara profissionais para identificar, prevenir e controlar riscos em contextos de saúde e social, reforçando a qualidade e a segurança dos cuidados prestados. A formação combina enquadramento teórico e aplicação prática, abordando normativas, modelos de gestão da qualidade e planos de segurança. No final, os participantes estarão aptos a desenvolver estratégias eficazes de prevenção e resposta, contribuindo para ambientes de trabalho mais seguros e para a proteção de utentes, colaboradores e visitantes.
 
 

Curso de Comunicação na Saúde

 
O Curso de Comunicação na Saúde foi concebido para dotar os profissionais de competências que elevam a qualidade dos cuidados prestados, reforçando a confiança dos utentes e a eficácia das equipas. A formação aborda desde a comunicação centrada no utente até à gestão de conversas difíceis, passando pela comunicação intercultural e pelo uso responsável de ferramentas digitais. Num setor em que falhas comunicacionais estão entre as principais causas de erros clínicos e conflitos, este curso oferece estratégias práticas e baseadas em evidência para promover uma comunicação empática, clara e eficaz. No final, os participantes estarão preparados para melhorar a colaboração interprofissional, otimizar processos e aumentar a adesão dos utentes às orientações clínicas.