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Promoção da Saúde: das raízes à prática profissional
Explore as raízes e práticas da promoção da saúde e descubra como transformar conhecimento em impacto nas políticas e na prática profissional.
Num mundo em constante transformação, onde as políticas públicas se reconfiguram e as tecnologias se renovam a um ritmo acelerado, o propósito da saúde mantém-se inalterado: criar condições para que cada pessoa possa viver de forma mais saudável e plena, e não apenas tratar a doença quando esta surge.
É precisamente esse o núcleo da promoção da saúde - um campo que integra ciência, comunidade e ação, e que procura transformar a forma como pensamos e praticamos cuidados, colocando o bem-estar no centro das decisões individuais e coletivas.
A promoção da saúde é mais do que um conjunto de programas ou campanhas. É uma visão de sociedade. Parte do princípio de que a saúde não nasce nos hospitais, mas nos contextos do quotidiano — nas casas, nas escolas, nos locais de trabalho, nas políticas urbanas e ambientais, e nas escolhas que moldam as condições de vida.
O movimento contemporâneo da promoção da saúde consolidou-se com a Carta de Ottawa, publicada em 1986, que definiu um novo paradigma para as políticas públicas: a saúde como resultado da interação entre fatores biológicos, sociais, económicos e ambientais.
Esta conferência representou uma rutura com a perspetiva tradicional, centrada na doença e no tratamento, e inaugurou um modelo de intervenção participativo, intersetorial e sustentável.
Desde então, encontros internacionais como as Conferências de Bangkok (2005) e Shanghai (2016) ampliaram esta visão, reforçando a necessidade de envolver governos, comunidades, instituições e cidadãos na construção de ambientes saudáveis.
A evolução do conceito reflete uma transição significativa: da educação para a saúde (predominantemente informativa) para a capacitação comunitária, onde o indivíduo é agente ativo na promoção do seu próprio bem-estar. A promoção da saúde deixou de ser um ato técnico para se tornar um movimento social, que atravessa disciplinas e contextos.
Falar de promoção da saúde é falar de justiça social.
As condições em que as pessoas nascem, crescem, vivem e trabalham determinam o seu estado de saúde tanto ou mais do que o acesso aos serviços clínicos. Fatores como a pobreza, o desemprego, a habitação, o ambiente físico, a literacia em saúde ou a educação moldam, de forma profunda, as oportunidades de uma vida saudável.
Os determinantes sociais da saúde constituem, assim, o núcleo conceptual da promoção da saúde moderna.
Reconhecer que a desigualdade é uma causa de doença é o primeiro passo para agir sobre ela. Profissionais que intervêm nesta área precisam compreender que cada intervenção individual ocorre num contexto social mais vasto, onde as estruturas económicas e culturais influenciam as escolhas de saúde.
A promoção da saúde é, portanto, uma prática de equidade: procura reduzir as diferenças injustas e evitáveis que afetam o acesso, a informação e o controlo sobre a própria vida. Nesse sentido, o trabalho de promoção da saúde é também um compromisso ético e político: um contributo para sociedades mais justas, resilientes e solidárias.
A prática da promoção da saúde assenta em quatro pilares estratégicos fundamentais:
Cada uma destas dimensões ganha relevância quando é adaptada ao contexto local.
Uma escola que desenvolve projetos de literacia alimentar, um município que investe em mobilidade ativa e espaços verdes, ou uma empresa que implementa programas de bem-estar laboral são exemplos concretos de como a promoção da saúde se traduz em práticas quotidianas com impacto real.
A chave está na integração: unir o conhecimento técnico à compreensão social, e articular ciência, políticas e cidadania.
A promoção da saúde é, antes de tudo, uma construção coletiva, onde o saber especializado se encontra com a experiência das comunidades.
A pandemia de COVID-19 revelou tanto a força como as fragilidades dos sistemas de saúde. Expôs desigualdades pré-existentes e sublinhou a importância da literacia em saúde, da solidariedade comunitária e da comunicação clara e acessível.
Num contexto global em que a desinformação, o sedentarismo e as doenças crónicas ganham terreno, a promoção da saúde enfrenta novos desafios.
Hoje, é imperativo:
A promoção da saúde do século XXI requer profissionais com pensamento interdisciplinar, capacidade analítica e compromisso ético. Exige mais do que boas intenções: pede ação sustentada e conhecimento aplicado.
A promoção da saúde não é domínio exclusivo da saúde pública.
É um campo transversal, que envolve enfermeiros, psicólogos, nutricionistas, educadores, assistentes sociais, terapeutas e gestores.
Cada interação, numa consulta, numa aula, num projeto comunitário ou numa política local, é uma oportunidade de promover mudança e capacitação.
Integrar a promoção da saúde na prática profissional é, por isso, um ato ético e técnico: implica colocar o bem-estar das pessoas e das comunidades no centro das decisões.
Profissionais que compreendem esta lógica não se limitam a tratar sintomas, ajudam a prevenir causas, fortalecem redes de apoio e fomentam autonomia.
A saúde, entendida neste enquadramento, é um processo coletivo e contínuo. E cada gesto, por mais simples que pareça, pode ser o ponto de partida para uma transformação sustentável.
A promoção da saúde não é apenas uma área profissional; é uma filosofia de ação social e humana.
Parte da convicção de que todos têm o direito (e a responsabilidade) de viver com dignidade, autonomia e bem-estar.
Promover saúde é educar, envolver, empoderar e construir.
É reconhecer que a prevenção é o investimento mais eficaz e que a equidade é a base de qualquer sistema verdadeiramente justo.
Num mundo em que a saúde se mede tanto pelos indicadores clínicos como pelas oportunidades de vida, a promoção da saúde continua a ser o elo que liga conhecimento, ética e comunidade — a ponte entre o ideal e o possível.
No webinário “Das Raízes à Prática”, a Dr.ª Ana Duarte, enfermeira e investigadora doutorada em Estudos da Criança, propõe uma viagem pelas origens, evolução e relevância atual da promoção da saúde.
A partir de marcos históricos como a Carta de Ottawa e das perspetivas mais recentes sobre equidade e sustentabilidade, a sessão convida à reflexão sobre os caminhos que ligam a teoria à prática.
Mais do que revisitar conceitos, este encontro procura inspirar profissionais a repensar o seu papel enquanto agentes de mudança, capazes de intervir com sensibilidade social e base científica.
Num tempo em que a promoção da saúde se afirma como pilar da saúde global, compreender as suas raízes é compreender o futuro das políticas de bem-estar.
Para quem deseja aprofundar estas competências, o Curso Pós-Universitário em Promoção da Saúde oferece ferramentas práticas para planear, implementar e avaliar intervenções eficazes.
A formação aborda temas como a literacia em saúde, estilos de vida saudáveis, saúde mental, equidade e sustentabilidade, preparando profissionais para atuar em contextos comunitários, escolares e organizacionais. Esta formação é um convite à ação, para transformar conhecimento em impacto real e contribuir para comunidades mais saudáveis e resilientes.