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Intervenção Familiar Sistémica: uma resposta integradora aos desafios de saúde mental atuais
Descubra como a intervenção familiar sistémica oferece uma resposta integradora aos desafios de saúde mental atuais, fortalecendo famílias e potenciando mudanças duradouras.
A Organização Mundial da Saúde estima que, a nível global, um em cada sete adolescentes entre os 10 e os 19 anos apresente algum transtorno mental, o que representa cerca de 15% da carga global de doenças nesta faixa etária. A depressão, a ansiedade e os transtornos comportamentais estão entre as principais causas de doença e incapacidade nesta população, e o suicídio é a terceira principal causa de morte entre jovens dos 15 aos 29 anos.
Estes números ganham contornos ainda mais preocupantes quando contextualizados: a pandemia agravou sintomas de ansiedade e depressão, o isolamento social enfraqueceu redes de apoio e o impacto das redes sociais aumentou a exposição a fenómenos como o ciberbullying e a comparação social constante.
Neste cenário, torna-se urgente pensar em estratégias de intervenção que sejam capazes de integrar dimensões individuais, familiares, comunitárias e institucionais. É aqui que a terapia familiar sistémica se afirma como uma resposta sólida e atual, capaz de compreender e atuar sobre os contextos que moldam a saúde mental ao longo da vida.
A intervenção familiar sistémica é uma abordagem terapêutica que entende a família como um sistema vivo, no qual cada membro influencia e é, por sua vez, influenciado pelos outros. Em vez de se centrar exclusivamente nos sintomas individuais, procura compreender padrões de interação, significados partilhados e dinâmicas de poder que possam sustentar ou perpetuar as dificuldades.
O profissional que atua nesta área, seja psicólogo, médico, enfermeiro ou assistente social, necessita de desenvolver uma visão circular e contextual dos problemas. Esta perspetiva reconhece que o comportamento de cada indivíduo não pode ser dissociado do seu ambiente relacional e que a mudança efetiva requer a intervenção sobre as ligações e interdependências que estruturam o sistema familiar.
A família constitui o primeiro núcleo social e emocional de qualquer pessoa. É no seu seio que se estabelecem vínculos, se transmitem valores e crenças e se desenvolvem competências socioemocionais fundamentais para enfrentar os desafios da vida. Quando a comunicação é disfuncional, os conflitos permanecem sem resolução ou ocorrem eventos traumáticos, o sistema familiar pode tornar-se um fator de vulnerabilidade para perturbações mentais, tanto na infância como na idade adulta.
A intervenção sistémica atua não apenas no tratamento, mas também na prevenção, reforçando os recursos e a coesão familiar antes que as dificuldades se transformem em crises.
A intervenção familiar sistémica assenta nos princípios da Teoria Geral dos Sistemas e da Cibernética, que explicam de que forma os sistemas se organizam, se autorregulam e se transformam. No contexto da saúde mental, o pensamento sistémico parte do pressuposto de que o sintoma pode ser, muitas vezes, uma resposta adaptativa do sistema familiar, em vez de um problema isolado da pessoa que o manifesta.
Ao adotar esta perspetiva, o profissional intervém não apenas junto de quem apresenta o sintoma, mas também sobre todo o sistema que contribui para a sua manutenção ou resolução, potenciando mudanças mais profundas e sustentáveis.
Muitos desafios em saúde mental têm origem em padrões de comunicação disfuncionais, capazes de gerar mal-entendidos, alimentar conflitos e perpetuar tensões familiares. A intervenção familiar sistémica procura identificar estas distorções e substituí-las por formas de interação mais claras, empáticas e assertivas, que favoreçam a compreensão mútua e a cooperação.
A avaliação, neste modelo, vai além da análise individual. Envolve a formulação de hipóteses sistémicas que permitem mapear as interações e perceber como os diferentes elementos do sistema se influenciam. Este mapeamento possibilita identificar pontos estratégicos de mudança, capazes de gerar transformações com impacto positivo e duradouro em toda a dinâmica familiar.
A intervenção familiar sistémica integra diferentes modelos e técnicas, desde abordagens estruturais e estratégicas até metodologias narrativas e colaborativas. A escolha da estratégia depende das necessidades específicas da família e pode envolver:
No trabalho prático, recorrem-se a instrumentos que permitem visualizar e compreender melhor as dinâmicas familiares, como:
Entre as técnicas ativas mais utilizadas encontram-se:
A intervenção com famílias multiproblemáticas assume especial relevância no contexto atual, marcado por instabilidade económica, precariedade laboral e aumento dos casos de violência doméstica. Estas famílias tendem a acumular problemas intergeracionais, dificuldades financeiras, baixa literacia em saúde e redes de apoio frágeis, o que reforça a necessidade de respostas coordenadas e sustentadas.
A abordagem sistémica disponibiliza ferramentas para trabalhar de forma articulada com escolas, serviços de saúde, tribunais e organizações comunitárias. Desta forma, a intervenção ultrapassa as paredes do consultório, estendendo-se a uma rede de suporte contínua que reforça o impacto e a durabilidade das mudanças alcançadas.
Numa realidade em que os desafios de saúde mental aumentam em número e complexidade, a intervenção familiar sistémica destaca-se como uma resposta integradora, preventiva e terapêutica. Atua tanto sobre fatores individuais como sobre os contextos que moldam o bem-estar, colocando a família no centro do processo e promovendo a cooperação entre profissionais e instituições. É uma abordagem que oferece soluções mais sustentáveis e ajustadas às exigências contemporâneas.
A Especialização Avançada em Intervenção Familiar Sistémica foi concebida para profissionais das áreas da psicologia, medicina, enfermagem e serviço social que pretendem aprofundar competências nesta abordagem. O programa percorre desde os fundamentos teóricos até à prática supervisionada, incluindo técnicas de avaliação, estratégias para famílias multiproblemáticas e terapia de casal.
No final da formação, o profissional estará preparado para atuar de forma integrada e eficaz nos contextos mais complexos da prática clínica e social, tornando-se um agente ativo na resposta aos desafios de saúde mental que definem a nossa sociedade.