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PHDA e a dificuldade no reconhecimento facial das emoções: um alerta aos psicoterapeutas

É importante esclarecer que, para diagnosticar a PHDA, não basta identificar as características de hiperatividade/impulsividade e/ou desatenção.

A Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA) é uma das psicopatologias mais estudadas ao longo dos últimos séculos. O primeiro relato das características do PHDA é feito em um livro de medicina alemão, por Melchior Adam Weikard, em 1775. No século XX, muitos estudos publicados contribuíram para delinear tratamentos baseados em evidências científicas e melhoria do bem-estar do indivíduo, tanto em relação à farmacoterapia quanto a psicoterapia. A partir desses estudos, a Terapia Cognitivo Comportamental foi indicada como modalidade psicoterapêutica com maior eficácia para crianças/adolescentes e adultos com PHDA .

 

Segundo o DSM-5-TR, a PHDA é caracterizada por níveis de hiperatividade/impulsividade e/ou atenção inconsistentes com o desenvolvimento do indivíduo. Geralmente, diagnosticado na infância e de curso crónico, com algumas características a permanecer até a vida adulta (PHDA Residual).

 


PHDA: O diagnóstico

 

A apresentação clínica da PHDA é heterogênea, com três subtipos identificados: predominantemente desatento; predominantemente hiperativo/impulsivo; ou combinado. É importante esclarecer que, para diagnosticar a PHDA, não basta identificar as características de hiperatividade/impulsividade e/ou desatenção, é necessário que sejam observadas evidências de prejuízos clinicamente significativos no funcionamento social, acadêmico ou ocupacional, ou seja, os sintomas precisam causar prejuízos significativos no funcionamento em, pelo menos, duas áreas importantes da vida desses indivíduos dentre de casa e escola (ou trabalho em adultos). Os sintomas devem persistir por, no mínimo, seis meses em grau desadaptativo e serem incompatíveis com o nível de desenvolvimento esperado para a idade.

 

Esta perturbação está associada a um funcionamento deficitário em diversos contextos nos quais o indivíduo está inserido, com prejuízos significativos no âmbito académico e social

 

Os sintomas primários de hiperatividade/impulsividade e desatenção provocam problemas secundários no desempenho acadêmico e social dos indivíduos com PHDA, tanto na infância como na idade adulta. Frequentemente,  a escola é a primeira a informar sobre características de PHDA que estão a atrapalhar o desenvolvimento da criança/adolescente em relação aos pares. Muitas vezes, os problemas considerados mais significativos para o encaminhamento da criança/adolescente para tratamento são as dificuldades na aquisição do conteúdo académico. Por este motivo, as metas estabelecidas para o tratamento psicoterápico podem vir a ser enviesadas tendo maior foco no desenvolvimento de competências que colaborem para a melhoria do desempenho escolar, deixando em um segundo plano o desenvolvimento de competências socioemocionais.

 

Estudos em crianças com PHDA confirmam que problemas emocionais podem agravar problemas de interação social e aumentar o risco de comorbilidade com outras psicopatologias

 

 

Os prejuízos sociais da PHDA

 

A maioria das crianças com diagnóstico de PHDA apresenta prejuízo nas experiências sociais, assim como problemas emocionais. Dificuldades no funcionamento social incluem problemas com adaptação de comportamentos ao grupo e comportamentos intrusivos que podem levar à rejeição dos pares e a falta de amizades.

Os problemas de regulação emocional incluem dificuldades na perceção das emoções, o que é importante para um funcionamento social adequado e pode aumentar o risco para ansiedade e depressão, bem como baixa autoestima.

 

Desregulação emocional é a incapacidade de modificar um estado emocional para promover o comportamento adaptativo, direcionado a objetivos. Pode envolver deficiências múltiplas, entre as quais a incapacidade para reconhecer estados emocionais nas expressões faciais dos outros, a incapacidade de modular a velocidade e intensidade da expressão das emoções e a incapacidade de responder a esta reatividade emocional de uma forma que seja apropriada no dado contexto e normas sociais.

 

Segundo estudos recentes publicados na revista European Child & Adolescent Psychiatry, os prejuízos sociais na PHDA podem ser explicados pela desregulação emocional e dificuldade no reconhecimento facial das emoções por essas crianças. Esta dificuldade estaria relacionada à baixa competência social e menor popularidade entre os pares. Por este motivo, os investigadores indicam fortemente que as intervenções psicoterapêuticas com crianças/adolescentes com PHDA incluam o treino de competências socioemocionais com ênfase nos elementos de consciência e reconhecimento facial das emoções.

 

As novas evidências científicas mostram que o treino de competências de reconhecimento das emoções para crianças/adolescentes com PHDA precisa receber atenção dos psicoterapeutas ao construírem o plano de tratamento. A Terapia Cognitivo Comportamental com Crianças e Adolescentes possui inúmeras técnicas, com eficácia comprovada, para o desenvolvimento de competências socioemocionais, nomeadamente, a consciência e o reconhecimento facial das emoções. Portanto, a partir desses novos dados científicos, fica evidente que o trabalho de reconhecimento das emoções nos tratamentos de crianças/adolescentes torna-se fundamental não só para um colaborar para a melhoria das interações sociais, mas também para suprir uma dificuldade apresentada por essas crianças/adolescentes que pode prejudicar significativamente seu desenvolvimento.

 

 

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Artigo da autoria de:
Luciana Rizo

Doutoranda em Psicologia pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra. Mestre em Psicologia e Graduada em Psicologia Clínica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ao longo da sua carreira, foi adquirindo diversas competências através da frequência de cursos como o Curso Especializado em Terapias Cognitivas de 3a Geração (Coimbra-Portugal), o Treinamento Avançado em Terapia Focada na Compaixão (Portugal e Reino Unido), a Pós-Graduação em Terapia Cognitivo-Comportamental e Neuropsicologia (UFRJ). Tem mais de 17 anos de experiência como docente e coordenadora em diversas pós graduações e especializações. Tem experiência nas áreas de Psicologia Cognitivo-Comportamental e Psicologia Clínica, atuando principalmente nos seguintes temas: Psicoterapias Cognitivo Comportamentais de 2ª e 3ª geração, Transtornos da Infância e Adolescência, Transtornos de Humor, Transtornos de Ansiedade, Regulação Emocional e Promoção de Bem Estar. É Terapeuta Certificada pela Federação Brasileira de Terapias Cognitivas.

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