Psicanálise – Afetos, Emoções e Sentimentos

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Psicanálise – Afetos, Emoções e Sentimentos

Qual a diferença entre afeto, emoção e sentimento? Afeto é a base biológica das emoções e dos sentimentos. É algo mais genérico que engloba tudo o que sentimos. Nascemos com capacidade afetiva, e não só racional. Afetividade tem que ver com podermos sentir emoções e sentimentos.

Em 1917, Sigmund Freud, com a sua habitual antevidência, descreveu os afetos como experiências compostas que incluem “determinadas inervações ou descargas motoras” e “certos sentimentos”.

Desde então, os psicólogos têm definido:

Emoção como a componente neurofisiológica/expressão motora do afeto (ou seja, o que acontece no corpo);

Sentimentos como a componente subjetiva, cognitivo-experiencial (ou seja, “o que é ter essa emoção”; “o que nos faz sentir essa emoção”).

Segundo António Damásio, a emoção é um conjunto de reações corporais, automáticas e inconscientes, face a determinados estímulos provenientes do meio onde estamos inseridos.

O sentimento surge quando tomamos consciência das nossas emoções, isto é, o sentimento dá-se quando as nossas emoções são transferidas para determinadas zonas do nosso cérebro, onde são codificadas sob a forma de atividade neuronal.

O termo “afeto” abrange tanto a componente emocional como a componente sentimental. Os afetos exprimem-se através de emoções e em sentimentos.

Para os nossos fins – elaboração psíquica da emoção -, pensemos no afeto como sendo expresso em quatro “registos” diferentes: somático, motor, fantasmático e verbal (seguindo o modelo proposto pela primeira vez pelos psicanalistas franco-canadianos Serge Lecours e Marc-André Bouchard nos anos 90).

No registo somático, o afeto é expresso através de sensações fisiológicas internas.

O afeto é experimentado pela primeira vez na infância – nos órgãos internos, cabeça, musculatura e pele – através de sensações de dor, tensão, calor ou náusea.

Ao longo da vida, o corpo continua a ser o nosso derradeiro cenário emocional, o lugar onde qualquer experiência que não possamos experienciar e elaborar mentalmente continua a deixar a sua marca.

 

 

O psicoterapeuta ajuda o paciente a colocar em palavras os afetos que permaneceram não reconhecidos, ou seja, a promover a elaboração psíquica

 

 

 O nível seguinte em termos de complexidade, também experienciado pelas crianças, é o registo motor. Este envolve o comportamento e a ação do corpo/sistema muscular.

Os bebés contorcem-se, agitam-se, choram e sorriem – tudo isto são manifestações reflexivas de sensações afetivas corporais.

No entanto, os adultos também usam a atividade corporal como meio de expressão dos afetos: lutas no pátio da escola, bater as portas e abraços calorosos são, em parte, expressões deste registo.

O próximo nível na cadeia que liga corpo e mente é o fantasmático. Este envolve a utilização de imagens mentais e cenas para representar estados corporais elementares.

O seu conteúdo pode tomar a forma de imagens expressas em sonhos e fantasias.

É um passo fundamental, pois é o primeiro a utilizar símbolos para representar o afeto. Estes, em particular, podem ser combinados para permitir a criação de estruturas de significado mais complexas.

 

Note-se que nem todas as expressões fantasmáticas do afeto têm esta qualidade representativa: considere as alucinações persecutórias, que muitas vezes são vividas como “coisas em si mesmas” sem qualidades simbólicas.

 

Por último, temos o registo verbal que implica a manifestação do afeto através linguagem (“pôr em palavras”).

Considerado o topo da nossa estrutura emocional, permite-nos ligar o passado ao presente, suster uma experiência e examiná-la de diferentes ângulos, colocar as nossas emoções “em pausa” e atuar sobre elas.

 

 

O afeto pode ser expresso em quatro “registos” diferentes: somático, motor, fantasmático e verbal

 

 

Como argumentou o psicanalista britânico Donald Winnicott no século passado, o afeto é, antes de mais, uma experiência corporal para as crianças.

E é somente num ambiente intersubjetivo “suficientemente bom” – a relação entre mãe e filho – que o “psicossoma” começa a desdobrar-se através da elaboração psíquica do afeto como experiência corporal.

A psicoterapia é, de certa forma, semelhante. A relação entre terapeuta e paciente cria um novo espaço intersubjetivo destinado a promover a elaboração psíquica da emoção.

Ou seja, a elaboração do afeto em imagens e palavras, e a crescente complexificação e sofisticação entre as imagens e as palavras.

O psicoterapeuta, tal como a mãe “suficientemente boa”, ajuda o paciente a colocar em palavras os afetos que permanecem não reconhecidos, a fim de serem psiquicamente elaborados.

 

 

Mais ‘Puro’ dos Afetos

 

 

Para Lacan (1901-1981), a angústia seria o mais puro dos afetos. Por ser aquilo que se experiencia logo ao saber, ao estranhar, ao separar a imagem de si próprio daquela do Outro.

Os outros afetos derivariam da angústia. Seja de deformações desta, seja de formas a fugir dela, ou ela mesma, como possibilidade. A vergonha poderia ser angústia de saber-se não amado e/ou tal possibilidade? O nojo poderia ser a fuga da angústia que poderia causar a memória de algo que já foi prazer em outros tempos? Ex: a criança que brincava com as próprias fezes não consegue sequer ouvir tal palavra sem sentir um grande incômodo psíquico na vida adulta.

 

Numa investigação mais detalhada, talvez seja possível até encontrar na essência de uma vergonha, nojo ou culpa, a presença de uma ou algumas fantasias inconscientes. Acredito ser bem possível, a não ser que se considere, na psicanálise, uma mera coincidência a ampla presença da fala “eu sou tímido” no meio artístico. Curiosamente, esta acaba sendo uma fala recorrente no meio que concerne à prática do teatro, talvez a maior exposição do próprio ser ao julgamento alheio – aquilo que os tímidos abominam a todo custo. Como ator amador, não foram raras as vezes que a ouvi de algumas pessoas que, momentos antes, observei, explicitamente, quebrarem muitas “regras sociais” ao palco.

 

 

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