A Psicanálise Clínica na Atualidade

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A Psicanálise Clínica na Atualidade: Relevância, Desafios e Novas Perspetivas

Conheça os desafios atuais, contributos e novas perspetivas da Psicanálise Clínica para compreender o psiquismo e a prática contemporânea.

A aceleração das rotinas diárias atuais deixa pouco espaço para o silêncio, para a pausa e para a reflexão. Nesse intervalo esquecido, a psicanálise mantém o seu lugar: recuperar a complexidade do ser humano, escutar para além da superfície e oferecer a sofrimento encontre uma linguagem.

 

 

Psicanálise Clínica: a escuta que resiste

 

No consultório, a psicanálise clínica continua a exigir do profissional uma escuta que não se apressa. Conceitos clássicos, como a transferência, repetição e resistência, mantêm-se atuais no contacto com os pacientes, mas ganham novas tonalidades.

 

As novas tecnologias digitais permitiram criar um setting híbrido, em que a distância da teleconsulta altera ritmos e dinâmicas transferenciais, a polimedicação passou a obrigar o diálogo constante entre paciente e psiquiatria, e em que fenómenos como Borderline, dependências comportamentais e perturbações ligadas à hiperconectividade desafiam agora as categorias clínicas tradicionais.

 

A prática psicanalítica não se fecha sobre si mesma. Revê-se e ajusta-se ao enquadramento, mas preserva um fio ético essencial: o tempo próprio de cada sujeito e a primazia da palavra.

 

 

O Pensamento Psicanalítico perante Fenómenos Sociais

 

A psicanálise oferece chaves para compreender o que nos atravessa coletivamente e a sua força não reside apenas no setting terapêutico.

 

O culto da performance, que transforma a vida em palco de resultados e métricas, produz vazios existenciais que se expressam em sintomas de exaustão e Burnout. A exposição nas redes sociais testa os limites do narcisismo e da validação externa. Já as novas configurações familiares desafiam os modelos clássicos de transmissão simbólica e pertença, e exigem leituras ajustadas à pluralidade de experiências.

 

Nestas intersecções, o pensamento psicanalítico oferece mapas de leitura para perceber como o social habita o inconsciente — e vice-versa.

 

 

Produção de Conhecimento: Clínica que também pensa

 

A psicanálise nunca foi apenas uma técnica clínica. É também um modo de pensar e de produzir conhecimento sobre o humano.

 

Desde Freud, ao introduzir o inconsciente no campo do saber, influenciou a psicologia, a filosofia, a educação, as artes e até a política.

 

Ao recordar que o sujeito não é inteiramente racional nem transparente para si mesmo, a psicanálise oferece uma chave indispensável para compreender as contradições da experiência humana.

 

Para o clínico, esta dimensão epistemológica significa reconhecer que cada caso é mais do que intervenção: é também produção de saber.

 

 

A Psicanálise nas Instituições de Saúde Mental

 

Em contextos institucionais, onde os tempos são curtos e os protocolos pedem resultados rápidos e comparáveis, a psicanálise sustenta uma outra temporalidade – o tempo singular de cada sujeito – e confronta-se com o desafio de justificar a sua pertinência.

 

Integrar equipas multidisciplinares, dialogar com terapias cognitivo-comportamentais, sistémicas ou farmacológicas, é atualmente uma exigência. A capacidade de defender o espaço da palavra, do silêncio e da transferência é uma forma de resistência clínica e ética.

 

Porque medir mudança pode significar redução de sintomas, mas também maior liberdade subjetiva, capacidade de suportar o conflito, reconfiguração do laço com os outros. Nem tudo cabe em escalas e, ainda assim, deve ser pensado, comunicado e articulado em equipa.

 

 

Escuta, silêncio e ética

 

Talvez o gesto mais radical da psicanálise seja oferecer tempo. Numa era que vive de respostas instantâneas, o analista mantém a pausa, suporta o silêncio e acolhe o enigma.

 

Esse compromisso ético devolve ao sujeito um lugar de singularidade e protege a clínica de se tornar uma mera gestão de sintomas.

 

 

O que se pede ao Psicanalista de hoje?

 

Além do domínio e conhecimento técnicos, nos dias de hoje, espera-se do psicanalista competências fundamentais, mais abrangentes e humanas. Entre elas, destacam-se:

 

  • Literacia clínica e digital: saber trabalhar em setting presencial e online, com atenção a limites, confidencialidade e contrato terapêutico.
  • Trabalho em rede: articular com psiquiatria e outras abordagens sem perder o eixo da escuta.
  • Supervisão e investigação: sustentar a prática em reflexão contínua, para evitar dogmatismos.
  • Clareza comunicativa: traduzir o essencial do processo para contextos institucionais sem empobrecer a complexidade.

 

Isto apenas é possível através da formação especializada e contínua.

 

 

Formação em Psicanálise

 

Para os profissionais que pretendem expandir competências para além de um modelo singular, o Instituto CRIAP dispõe de uma oferta formativa alargada, ministrada por especialistas de renome e com uma vasta experiência na área da Psicanálise. Destacamos:

 

 

Curso de Psicoterapia Integrativa

 

O Curso Avançado em Psicoterapia Integrativa permite desenvolver competências para reconhecer diferentes modelos psicoterapêuticos, compreender variáveis transteóricas e integrar perspetivas diversas na construção de planos de intervenção. Esta formação convida o clínico a articular complexidade e flexibilidade, princípios estes que também movem a psicanálise na atualidade.

 

 

Webinário “Psicanálise na Atualidade”

 

O Instituto CRIAP promove o webinário “Psicanálise na Atualidade: Relevância, Desafios e Novas Perspetivas”, onde a Prof.ª Dr.ª Isabel Mesquita, Psicanalista Didata e Professora na Universidade de Évora, partilha a sua experiência clínica e investigativa.

 

A sessão aborda a psicanálise como método, pensamento e prática clínica, mas também como lente para fenómenos sociais e culturais que desafiam a nossa época. Um momento de reflexão crítica para profissionais que desejam aprofundar a pertinência da psicanálise no século XXI.

 

 

 

Artigo da autoria de:
Bruno de Azevedo