Dia Mundial da Violência contra a Pessoa Idosa | CRIAP

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Dia Mundial da Violência contra a Pessoa Idosa

O Dia Mundial da Consciencialização da Violência Contra a Pessoa Idosa destaca a urgência da intervenção especializada e da defesa do envelhecimento digno.

O Dia Mundial da Consciencialização da Violência contra a Pessoa Idosa, assinalado a 15 de junho, é um alerta para um fenómeno tantas vezes negligenciado. 
 
O envelhecimento da população, associado ao aumento da dependência funcional e à fragilidade social, expõe muitos idosos a situações de risco que não podem continuar a ser silenciadas.
 
A violência contra a pessoa idosa compromete direitos fundamentais e põe em causa o princípio da dignidade humana. Trata-se de um fenómeno complexo, de natureza multidimensional, que exige respostas integradas por parte da sociedade civil, das instituições públicas e dos profissionais que atuam em áreas estratégicas como a saúde, a justiça e a intervenção social.
 
 

Diversas formas de violência: mais do que agressão física

 
A violência contra a população idosa pode assumir diversas expressões, muitas das quais permanecem ocultas ou disfarçadas sob formas de cuidado aparentemente normais.
 
Os maus-tratos não se restringem ao domínio físico, sendo importante reconhecer outras formas de violência:
 
  • Violência psicológica: humilhações, insultos, ameaças, isolamento forçado ou infantilização da pessoa idosa.
  • Negligência: omissão de cuidados básicos, como alimentação, higiene, medicação ou acesso à saúde.
  • Violência económica: apropriação indevida de rendimentos, coação para assinar documentos ou exclusão da gestão dos próprios recursos.
  • Violência sexual: abuso, coerção ou contacto físico não consentido.
  • Violência institucional: práticas desumanas em lares ou unidades de cuidados, frequentemente associadas à falta de formação dos profissionais e à escassez de recursos.
 
 

Barreiras ao reconhecimento e denúncia

 
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, cerca de 1 em cada 6 pessoas com mais de 60 anos foi vítima de algum tipo de abuso no último ano. Contudo, estes números representam apenas a parte visível do problema.
 
Estima-se que a maioria dos casos permanece por identificar, em virtude do medo, da vergonha ou da dependência em relação ao agressor, o que sublinha a importância de estratégias de deteção precoce e sinalização eficaz.
 
O reconhecimento efetivo da violência contra a pessoa idosa enfrenta vários obstáculos. A invisibilidade social dos mais velhos, associada à normalização de certas condutas abusivas, contribui para que muitos casos não sejam sequer identificados como formas de violência.
 
Entre os fatores que perpetuam este ciclo silencioso, destacam-se:
  • A dependência económica e afetiva do agressor, frequentemente um familiar direto;
  • O sentimento de vergonha ou medo de represálias;
  • A falta de informação sobre os canais de denúncia e os mecanismos de proteção existentes;
  • A desconfiança relativamente à eficácia das respostas institucionais.
 
 

A discriminação etária como forma de violência silenciosa

 
A discriminação etária, ou idadismo, é uma forma de violência que muitas vezes passa despercebida. Surge quando se excluem as pessoas idosas de decisões que lhes dizem respeito ou quando se reforçam ideias erradas, como a de que são incapazes, ultrapassadas ou inúteis.
 
Este preconceito afeta a forma como a sociedade trata os mais velhos, levando a atitudes desrespeitosas e a decisões que limitam a sua autonomia. Para combater a violência contra a pessoa idosa, é essencial mudar esta forma de pensar e valorizar todas as fases da vida.
 
 

Quando o cuidado institucional se transforma num risco

 
As instituições de apoio à pessoa idosa deveriam ser espaços de proteção, dignidade e cuidado. Contudo, a realidade mostra que, em muitas situações, são também ambientes propícios a práticas negligentes ou abusivas.
 
Os maus-tratos em contexto institucional podem resultar:
 
  • De sobrecarga laboral dos profissionais;
  • Da escassez de formação específica em gerontologia e ética do cuidado;
  • De estruturas organizativas desadequadas ou pouco humanizadas;
  • De culturas institucionais que desvalorizam a individualidade do idoso.

 

A fiscalização rigorosa e a promoção de boas práticas são essenciais para garantir ambientes seguros e respeitadores da dignidade humana.

 
 

Envelhecer com qualidade

 
O envelhecimento saudável não se trata apenas de bem-estar físico. Pressupõe condições que garantam autonomia, sentido de pertença e oportunidade de participação plena na sociedade.
 
As políticas públicas devem promover o envelhecimento ativo de forma transversal, assegurando o acesso à mobilidade segura, à vida cultural e cívica, a apoio psicológico adequado e à inclusão digital.
 
Só assim se poderá garantir que todas as pessoas, independentemente da idade, possam viver com dignidade e qualidade.
 
 

Literacia em envelhecimento como fator de proteção

 
Uma sociedade informada é também mais consciente e atenta às necessidades das suas populações mais vulneráveis. Promover a literacia em envelhecimento é fundamental para que se reconheçam os direitos das pessoas idosas, as suas capacidades e os desafios que enfrentam.
 
Este conhecimento contribui para a deteção precoce de sinais de maus-tratos, desconstrói preconceitos enraizados sobre a velhice e fortalece a empatia entre gerações. Além disso, permite criar ambientes mais inclusivos, nos quais os idosos participam ativamente na vida comunitária e são reconhecidos como membros valiosos da sociedade.
 
 

Profissionais na primeira linha de resposta

 
Os profissionais da saúde, da justiça e da ação social assumem um papel decisivo na identificação e acompanhamento de situações de violência contra a pessoa idosa. A sua intervenção exige formação contínua nas áreas do envelhecimento e dos direitos humanos, bem como competências de comunicação empática e escuta ativa. O conhecimento aprofundado da legislação aplicável e a capacidade de articulação com diferentes entidades e serviços são igualmente essenciais para garantir uma resposta eficaz e centrada na proteção da vítima.
 
 

Formação especializada

 
Nesse sentido, destacamos as seguintes formações especializadas para os profissionais e organizações que pretendem desenvolver estratégias eficazes de prevenção, intervenção e promoção do envelhecimento saudável: 
 

Curso Pós-Universitário em Envelhecimento Ativo e Saudável

 
Este curso prepara profissionais de saúde para planear e implementar serviços age-friendly, promovendo ambientes seguros, acessíveis e centrados na pessoa idosa. A formação foca-se na aplicação do modelo das 4Ms (Motivação, Medicação, Estado Mental e Mobilidade), permitindo intervenções personalizadas, baseadas em evidência científica, que valorizam a autonomia e a qualidade dos cuidados.
 

Curso de Dinâmicas de Grupo para Idosos

 
Um curso que forma profissionais para planear, desenvolver e avaliar atividades de grupo com adultos mais velhos, promovendo a interação social e o estímulo cognitivo. A formação centra-se em intervenções não farmacológicas, comunicação eficaz, neuroplasticidade e boas práticas para garantir o envolvimento ativo dos idosos em contextos estruturados e significativos.
 

Curso de Eletroestimulação para Idosos

 
Uma formação que utiliza a eletroestimulação como abordagem terapêutica segura e eficaz no controlo da dor em pessoas idosas. O curso aprofunda o conhecimento sobre as especificidades da dor nesta faixa etária, aborda as indicações e limitações da técnica e ensina a aplicar os parâmetros do equipamento em diferentes contextos clínicos, promovendo o alívio sintomático e a melhoria da qualidade de vida.
 

Curso Pós-Universitário em Enfermagem de Saúde Mental na Terceira Idade

 
Este curso foca-se nas especificidades da saúde mental em idade avançada, este curso prepara enfermeiros para uma intervenção qualificada junto da população idosa. Ao longo da formação, os participantes desenvolvem competências para identificar precocemente sinais de sofrimento psíquico, aplicar estratégias de estimulação cognitiva e prestar cuidados orientados para a prevenção, promoção e reabilitação da saúde mental, contribuindo para um envelhecimento mais saudável e com dignidade.
 
 
Estas formações representam uma oportunidade estratégica para reforçar competências, atualizar práticas e responder de forma mais qualificada às necessidades de uma população cada vez mais envelhecida.