Ferida Cirúrgica: Como Prevenir Infeções no Local Cirúrgico

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Ferida Cirúrgica: Como Prevenir Infeções no Local Cirúrgico

Saiba como prevenir infeções na ferida cirúrgica com medidas baseadas em evidência, protocolos perioperatórios e práticas seguras de enfermagem.

 

Na Europa, estima-se que 4,3 milhões de doentes por ano contraiam pelo menos uma infeção associada aos cuidados de saúde. Entre as mais frequentes estão as Infeções aos Locais Cirúrgicos (ILC) e estão associadas a aumentos da morbilidade, mortalidade e custos hospitalares.

 

Para os enfermeiros, prevenir a infeção significa aplicar ciência, técnica e vigilância em todas as fases do período perioperatório.

 

 

Ferida cirúrgica: um foco de risco que exige atenção contínua

 

A Infeção do Local Cirúrgico pode comprometer toda a recuperação do doente. Pequenas falhas em cadeia viram uma infeção, dor, reoperações, internamentos mais longos e equipas sob pressão.

 

Estas complicações que pode ser prevenido através de protocolos claros e uma adesão rigorosa a boas práticas clínicas.

 

O impacto vai além do indivíduo. Reflete-se na sobrecarga do sistema de saúde e na confiança da comunidade nos cuidados prestados.

 

 

Fatores de risco associados à infeção da ferida cirúrgica

 

Entre os principais fatores encontram-se:

 

  • Condições pré-existentes como diabetes, obesidade ou imunossupressão;
  • Tempo cirúrgico prolongado;
  • Preparação inadequada da pele;
  • Falhas na profilaxia antibiótica;
  • Quebras na técnica asséptica intraoperatória.

 

Conhecer estes fatores é essencial para implementar medidas preventivas personalizadas e eficazes.

 

 

O que os dados nos dizem sobre ILC?

 

Em Portugal, os dados mais recentes do ECDC mostram que, entre 2022 e 2023, a prevalência de infeções associadas aos cuidados de saúde (IACS) observada no dia do inquérito foi 11,6% (acima da mediana da UE/EEE de 6,8%).

 

O mesmo “postal” do país indica dois pontos cirúrgicos críticos: 34,4% das profilaxias cirúrgicas ultrapassam 24h e 79,5% das camas tinham uma solução alcoólica à cabeceira - uma margem clara para a melhoria.

 

Entre os agentes mais frequentes nas ILC europeias encontram-se Staphylococcus aureus, Enterococcus spp. e E. coli. Isto confere-nos pistas claras e diretas para bundling e stewardship.

 

Mas há muito mais a falar e a fazer sobre este tema.

 

 

O que um profissional de enfermagem consegue mudar?

 

As recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Direção-Geral da Saúde (DGS) são guias fundamentais para reduzir a incidência de infeções cirúrgicas. A adesão aos feixes de intervenções recomendados garante consistência, padroniza práticas e sustenta a qualidade assistencial em qualquer contexto clínico.

 

 

Boas práticas no período perioperatório

 

A prevenção é multifatorial e deve ser pensada em três momentos:

 

 

Período Pré-Operatório

 

Neste período, o foco principal é a otimização do estado clínico do doente, a higiene adequada e a preparação cutânea com antissépticos.

 

  • Banho com CHG (quando protocolado) e preparação da pele com solução alcoólica à base de clorohexidina, uma vantagem face a soluções aquosas.
  • Depilação só com máquina elétrica (clippers) e apenas se necessário;
  • Profilaxia antibiótica: administrar na janela correta (tipicamente ≤60 min antes da incisão; 120 min para fármacos com infusão prolongada) e não prolongar após o fecho em procedimentos limpos/limpo-contaminados. O alvo prático em Portugal foca-se em cortar o >24h.
  • Colonização por S. aureus (quando o hospital rastreia): descolonização de portadores para ortopedia ou cardiotorácica com mupirocina nasal 2% (± banhos CHG), uma forte recomendação da OMS.

 

 

Período Intraoperatório

 

Esta etapa caracteriza-se por uma técnica asséptica rigorosa, normotermia e profilaxia antibiótica no timing adequado.

 

 

 

Período Pós-operatório

 

Esta última fase concentra-se na vigilância contínua da ferida cirúrgica, na educação do doente e na monitorização precoce de sinais de complicação.

 

  • Não prolongar “só por via das dúvidas” a profilaxia antibiótica, uma vez que não reduz ILC e aumenta eventos adversos e a resistência.
  • Pensos secos, técnica assética e reavaliação precoce de exsudado, dor desproporcional, febre e sinais sistémicos. Devem ser documentadas escalas e fotos quando a instituição o permite, uma vez que ajuda o cirurgião a decidir mais rápido.

 

 

O papel da equipa multidisciplinar

 

A prevenção da infeção da ferida cirúrgica é um trabalho de equipa. Enfermeiros, cirurgiões, anestesistas, farmacêuticos e auxiliares têm papéis complementares e interdependentes. O sucesso depende de uma comunicação eficaz, da responsabilização partilhada e da formação contínua de todos os profissionais envolvidos no processo cirúrgico.

 

 

Formação em Infeções associadas aos Cuidados de Saúde

 

A ciência da prevenção evolui continuamente. Manter-se atualizado em práticas de antissepsia, protocolos de profilaxia e cuidados de vigilância da ferida cirúrgica é um investimento direto na segurança do doente.

 

 

Curso de Prevenção da Infeção do Local Cirúrgico

 

Para profissionais que desejam aprofundar competências nesta área, o Curso de Prevenção da Infeção do Local Cirúrgico oferece uma formação prática e completa.

 

Aborda desde a epidemiologia e fatores de risco até às medidas preventivas em todas as fases perioperatórias, em que os enfermeiros são capacitados para monitorizar, intervir e educar equipas na gestão da ferida cirúrgica.

 

 

Webinário “Prevenção da Infeção do Local Cirúrgico”

 

O Instituto CRIAP promove o webinário “Prevenção da Infeção do Local Cirúrgico: Boas Práticas para Enfermeiros”, conduzido pela Enf.ª Filipa Matias, especialista em Enfermagem Médico-Cirúrgica à Pessoa em Situação Perioperatória.

 

Nesta sessão, serão explorados tópicos essenciais para a prática clínica, incluindo a definição e o impacto da infeção do local cirúrgico (ILC), os principais fatores de risco, as medidas preventivas em todas as fases do período perioperatório (pré, intra e pós-operatório) e o papel da equipa multidisciplinar na adoção de protocolos seguros.

 

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