Com a inteligência artificial a gerar diagnósticos e os relógios de pulso a medir a qualidade do sono, somos levados a repensar uma pergunta essencial: estaremos realmente a dormir melhor?
A
medicina do sono entra agora numa nova fase, onde a integração de tecnologias digitais redefine não apenas os meios de avaliação e tratamento, mas também a própria compreensão do que é um sono saudável.
Esta transformação coloca novos desafios aos profissionais de saúde, exigindo-lhes uma atualização constante e uma capacidade crítica para integrar o digital com o humano, o algoritmo com a experiência clínica.
Da cronobiologia aos algoritmos: o sono em transformação
Dormir é um processo complexo e regulado por múltiplos sistemas biológicos, entre os quais se destacam os mecanismos da cronobiologia e a interação entre estruturas cerebrais, neurotransmissores e o ambiente.
Contudo, os padrões naturais de sono têm sido profundamente alterados pela modernidade: excesso de exposição à luz artificial, horários desregulados, trabalho por turnos e estimulação cognitiva em períodos noturnos mais tardios.
A medicina do sono tradicional identificou e tratou, ao longo das últimas décadas, síndromes como a apneia obstrutiva do sono, insónias crónicas ou distúrbios do ritmo circadiano. Mas com o avanço tecnológico, surgem novos fenómenos e novos perfis de doentes: utilizadores de wearables com dados inconclusivos,
pacientes com ansiedade induzida por métricas de sono, adolescentes com ritmos biológicos completamente dissociados do ciclo solar.
Além disso, a disseminação de ferramentas de autodiagnóstico e aplicações móveis trouxe à superfície um paradoxo: mais dados, mas nem sempre uma melhor compreensão.
Vários profissionais relatam um aumento de consultas motivadas por “alertas” de apps que não distinguem variabilidade normal de indicadores clínicos relevantes. A
literacia digital em saúde do sono tornou-se, por isso, um novo campo de intervenção.
O papel da tecnologia: aliada ou fonte de ruído?
Dispositivos de actigrafia, sensores incorporados em colchões, plataformas de telemonitorização e algoritmos de análise de EEG são hoje aliados importantes no estudo do sono. Através deles, é possível:
• Identificar padrões irregulares de sono em ambiente domiciliário;
• Implementar programas de rastreio populacional em larga escala.
Contudo, importa manter a vigilância ética e científica. A validação clínica de muitos destes dispositivos continua limitada e a intervenção baseada exclusivamente em tecnologia pode negligenciar fatores emocionais, contextuais ou socioculturais essenciais para a compreensão do sono. O desafio está, precisamente, na articulação entre dados objetivos e escuta subjetiva, entre tecnologia e intervenção clínica.
Literacia em sono e o papel do profissional na era digital
A proliferação de dispositivos de monitorização do sono, aplicações móveis e conteúdos acessíveis online está a transformar a relação das pessoas com o seu próprio descanso.
No entanto, esta abundância de informação nem sempre se traduz numa melhor compreensão. Muitas vezes, conduz à ansiedade induzida por métricas, autodiagnósticos incorretos ou expectativas irrealistas sobre o que é “dormir bem”.
Neste cenário, os profissionais de saúde têm um novo desafio: educar, traduzir e contextualizar a informação que os pacientes trazem consigo. É necessário:
• Distinguir dados clínicos de ruído tecnológico;
• Validar ou desconstruir interpretações feitas com base em apps ou wearables;
• Reforçar os princípios da higiene do sono, adaptados a cada faixa etária e condição clínica;
• Promover a confiança no acompanhamento profissional, como contraponto à procura por soluções rápidas online.
Formação essencial na área da Medicina do Sono
Para os profissionais que pretendem aprofundar os seus conhecimentos nesta área, o Instituto CRIAP oferece uma vasta oferta formativa na área do Sono. Destacamos:
Especialização Avançada em Medicina do Sono
A
Especialização Avançada em Medicina do Sono apresenta uma abordagem interdisciplinar, aplicada e fortemente orientada para a prática clínica. Dota os participantes de competências essenciais para identificar a fisiologia e cronobiologia do sono, diagnosticar distúrbios de sono, utilizar instrumentos de rastreio e intervenção adequados, assim como os tratamentos em medicina do sono mais eficazes.
Curso de TCC-I para a Insónia
Webinário “Sono 5.0: Como a tecnologia está a intervir no Sono”
É este o tema do
webinário promovido pelo Instituto CRIAP, conduzido pela Professora Doutora Teresa Paiva, referência nacional e internacional em Medicina do Sono.
Neste evento online, dirigido a profissionais de saúde, serão abordadas questões como:
• O que mudou nos últimos anos na Medicina do Sono;
• Como as novas doenças do sono estão a ser identificadas;
• Quais os dispositivos, algoritmos e estratégias digitais mais promissores;
• Que desafios éticos, clínicos e formativos estas inovações trazem.
A sessão combina a experiência clínica e investigativa da oradora com uma análise atualizada do estado da arte, abrindo espaço à reflexão crítica sobre o que significa intervir no sono em tempos de inovação constante.
Atualizar-se é essencial para quem deseja acompanhar e antecipar os novos rumos da prática clínica. Saiba mais sobre a nossa oferta formativa em Medicina do Sono e amplie a sua intervenção nesta área em expansão.