Traqueostomia: desafios, práticas e a abordagem do enfermeiro

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Traqueostomia: desafios, práticas e a abordagem do enfermeiro

Descubra os desafios e boas práticas de enfermagem na traqueostomia. Cuidados, comunicação, complicações e formação contínua em foco.

Traqueostomia: desafios, práticas e a abordagem do enfermeiro

 
 
A prática de enfermagem junto da pessoa com traqueostomia é uma das áreas mais exigentes e sensíveis dos cuidados respiratórios. Não se trata apenas de garantir a permeabilidade da via aérea - trata-se de assegurar, simultaneamente, a segurança clínica, o conforto respiratório, a integridade da pele, a dignidade da comunicação e o apoio psicossocial ao doente e à família.
 
Esta intervenção complexa exige do enfermeiro um conjunto de competências técnicas, de vigilância contínua e de resposta rápida a complicações que podem surgir a qualquer momento. Mais do que executar procedimentos, trata-se de interpretar sinais, antecipar riscos e adaptar os cuidados à evolução clínica.
 
 

Indicações clínicas e implicações funcionais

 
A traqueostomia é indicada em diversas situações, incluindo:
 
• Obstruções das vias aéreas superiores (tumores, trauma, estenoses);
• Necessidade de ventilação mecânica prolongada (doentes críticos, neurológicos, com DPOC grave);
• Défice neurológico com risco de aspiração ou incapacidade de proteção das vias aéreas;
• Compromisso respiratório crónico com hipoventilação.
 
Para o enfermeiro, compreender as indicações e os objetivos da traqueostomia é essencial para ajustar os cuidados, estabelecer prioridades e comunicar eficazmente com a equipa multidisciplinar.
 
 

Cuidados diários: rigor técnico e personalização

 
Os cuidados com a traqueostomia exigem protocolos bem definidos, mas também capacidade de adaptação às necessidades individuais do doente. Entre os cuidados mais relevantes, destacam-se:
 
• Higiene do estoma e da pele circundante, utilizando técnica assética para evitar infeções locais;
• Troca do penso e do sistema de fixação, de forma segura e confortável;
• Aspiração traqueal, com conhecimento sobre pressões, frequência e sinais de necessidade (ruídos, desaturação, aumento do esforço respiratório);
• Avaliação do tipo de cânula, humidade inspirada e limpeza interna (especialmente em cânulas não descartáveis).
 
A ausência de padronização ou a execução inadequada destas práticas pode levar a complicações evitáveis como traqueíte, granulomas, hemorragia ou estenoses traqueais.
 
 

Monitorização: do controlo vital à interpretação clínica

 
Monitorizar uma pessoa com traqueostomia não se limita à leitura de valores. Implica uma observação contínua e crítica sobre:
 
• Alterações no padrão respiratório (tiragem, uso de músculos acessórios, respiração paradoxal);
• Sinais de obstrução parcial ou total da cânula;
• Estado de consciência e tolerância ao dispositivo;
• Integridade da pele e presença de secreções (cor, viscosidade, odor).
 
A capacidade de correlacionar sinais clínicos com possíveis complicações e atuar precocemente pode fazer a diferença entre um episódio resolvido e uma situação crítica.
 
 

Comunicação: reabilitar a voz e preservar a identidade

 
A limitação da comunicação verbal em pessoas traqueostomizadas é um dos aspetos mais negligenciados e, simultaneamente, um dos mais impactantes. O enfermeiro tem aqui um papel crucial na implementação de estratégias alternativas:
 
• Uso de cânulas fenestradas, válvulas de fala (como Passy-Muir) e treino da fonação;
Comunicação aumentativa e alternativa (quadros, tablets, escrita);
• Mediação da comunicação entre doente, família e equipa, preservando o vínculo e reduzindo a frustração.
 
Respeitar a comunicação é respeitar a autonomia e o papel social do doente, mesmo em contexto de alta dependência.
 
 

Apoio emocional e reabilitação respiratória

 
A adaptação a uma traqueostomia envolve frequentemente medo, perda de controlo, alterações de imagem corporal e insegurança quanto ao futuro. O enfermeiro pode, e deve, ser um pilar de apoio nesta fase, promovendo:
 
• Escuta ativa e empática;
• Educação terapêutica centrada na capacitação da pessoa e dos cuidadores informais;
• Integração em programas de reabilitação respiratória, incluindo exercícios de deglutição e dessensibilização da via aérea.
 
Mais do que cuidados técnicos, é nesta dimensão relacional e educativa que se constrói uma transição segura para o domicílio e a continuidade dos cuidados.
 
 

Gestão de complicações: antecipar, detetar, intervir

 
Entre as complicações mais frequentes, destacam-se:
 
• Obstrução da cânula por secreções secas ou aspiração ineficaz;
• Deslocamento acidental da cânula, com risco de falência ventilatória;
• Infecções locais (estoma, brônquicas), por falhas na técnica asséptica;
• Fístulas traqueoesofágicas ou estenoses, associadas à pressão ou ao tempo de uso.
 
A formação contínua e a simulação clínica são recursos valiosos para preparar os profissionais para estes cenários. Ter um plano de atuação para emergências, incluindo o protocolo de recanulação ou ventilação alternativa, deve fazer parte da prática clínica estruturada.
 
 

Webinário “Traqueostomia: Desafios, Práticas e Abordagem do Enfermeiro”

 
No webinário “Traqueostomia: Desafios, Práticas e Abordagem do Enfermeiro”, conduzido pela Enf.ª Carla Rodrigues, especialista com vasta experiência em cuidados intensivos e reabilitação, serão abordados temas como o procedimento, cuidados diários, aspiração, monitorização, complicações e o apoio à comunicação e ao bem-estar emocional da pessoa com traqueostomia.
 
 

Curso em Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC)

 
O Curso em Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC), capacita os enfermeiros para uma abordagem global da pessoa com DPOC.
Destinado a profissionais de enfermagem e estudantes avançados, o curso foca a avaliação, intervenção e promoção da qualidade de vida, áreas essenciais para o cuidado respiratório especializado.
 
 
A abordagem à pessoa com traqueostomia exige competências técnicas rigorosas, sensibilidade e atualização contínua. A formação continua é essencial para profissionais empenhados em garantir cuidados seguros, eficazes e humanizados.