Interdição de Telemóveis e Redes Sociais: Os impactos na Saúde Mental dos Jovens

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Interdição de Telemóveis e Redes Sociais: Os impactos na Saúde Mental dos Jovens

Quais são os impactos da proibição de telemóveis nas escolas e das restrições no acesso às redes sociais? Como podem os profissionais intervir na saúde mental dos jovens?

Ao longo dos últimos anos, tem sido discutida a proibição de telemóveis nas escolas e são cada vez mais as instituições de ensino a adotar esta medida. A intenção é proteger os adolescentes: reduzir distrações, promover o foco, melhorar o bem-estar. Será uma medida eficaz? E, acima de tudo, que impacto tem na saúde mental dos jovens?
 
Não basta olhar para o comportamento. Temos também de compreender o que está por trás. Os smartphones e as redes sociais não são apenas ferramentas de entretenimento: são espaços de socialização, pertença e expressão. E quando retiradas de forma abrupta, o efeito pode ser bem diferente do desejado.
 
 

Proibição dos telemóveis e redes sociais: Ameaça ou oportunidade?

 
 
Estar online faz parte da vida dos adolescentes. É ali que se relacionam, comunicam e constroem a sua identidade. No entanto, é também através das redes sociais que as gerações mais novas se comparam em demasia ou são expostos a conteúdos que afetam o seu bem-estar emocional. Ignorar os riscos seria ingénuo. Mas ignorar as oportunidades também o é.
 
Eliminar por completo o acesso às redes pode parecer uma solução simples, mas tende a gerar mais ocultação do que autorregulação. E sem espaço para diálogo, o jovem adapta-se à proibição, mas não aprende a fazer escolhas saudáveis no digital.
 
 

O que se sabe sobre os efeitos da interdição de smartphones e redes sociais?

 
 
A investigação tem vindo a mostrar que proibir sem educar não resolve. A ausência de dispositivos pode reduzir alguns estímulos negativos, mas também retira uma fonte importante de contacto social e pertença, especialmente para adolescentes mais reservados ou com menos rede de apoio presencial.
 
Por outro lado, o uso excessivo e desregulado pode agravar sintomas de ansiedade, afetar a qualidade do sono, interferir com a autoestima e comprometer a concentração. Ou seja, tanto a presença como a ausência do digital exigem atenção. E o equilíbrio raramente se atinge com medidas extremas.
 
A questão não está em proibir ou permitir. Está em como se acompanha o uso, que significado se lhe dá, e que competências devem ser desenvolvidas para que o adolescente navegue com segurança no universo digital.
 
 

O papel dos adultos: presença antes de controlo

 
 
Pais, professores e profissionais de saúde mental são peças-chave nesta mediação. A parentalidade digital não se faz com filtros nem com castigos. Faz-se com presença, curiosidade e escuta ativa. E as escolas não devem limitar-se a aplicar regras; podem (e devem) ser espaços onde se trabalha a literacia digital de forma crítica.
 
Algumas práticas que funcionam:
 
• Negociar regras de uso com os próprios jovens;
• Criar momentos offline com propósito (e não como punição);
• Ajudar a refletir sobre o conteúdo que consomem;
• Falar sobre emoções ligadas ao digital sem julgamentos;
• Encorajar pausas e descanso digital com exemplos, não só com palavras.
 
Estas abordagens criam condições para que o adolescente desenvolva autorregulação, autonomia e sentido crítico — ferramentas que terão utilidade muito além do universo online.
 
 

Quando o digital se torna um problema: aprofundar para intervir

 
 
Para além da reflexão, há contextos em que a intervenção clínica é necessária. Situações de uso problemático, perda de controlo, isolamento ou impacto negativo no funcionamento diário exigem avaliação especializada e estratégias ajustadas.
 
O Curso em Uso Problemático de Videojogos foi desenvolvido para capacitar psicólogos e outros profissionais da saúde mental a intervir com eficácia neste tipo de comportamentos. Ao longo da formação, são trabalhadas as diferenças entre uso elevado e uso disfuncional, estratégias baseadas na evidência e questões éticas da prática clínica com jovens em contexto digital.
 
 

Um espaço para refletir e aprender: webinário com Dr.ª Cátia Castro

 
 
É neste contexto que se insere o webinário “Adolescentes Offline? O Impacto da Interdição de Telemóveis e Redes Sociais na Saúde Mental”, promovido pelo Instituto CRIAP e conduzido pela psicóloga clínica Dr.ª Cátia Castro.
 
Com uma abordagem rigorosa e acessível, a sessão convida à reflexão sobre os efeitos da interdição digital, os riscos e benefícios das redes sociais na adolescência e as melhores formas de promover literacia digital em casa e na escola. Um momento relevante para todos os profissionais que acompanham jovens e querem intervir com mais consciência num mundo digital cada vez mais presente.
 
Desligar o telemóvel não desliga o que o adolescente sente. Para construir uma relação mais saudável com o digital, é preciso mais do que controlo. É preciso escuta, presença e a coragem de educar no mundo tal como ele é, e não como gostaríamos que fosse.