A perda gestacional e neonatal é uma das experiências mais dolorosas que uma família pode atravessar. Apesar da sua frequência, continua a ser um tema muitas vezes envolto em silêncio, incompreensão e falta de apoio adequado.
Para os profissionais de saúde, saber intervir de forma sensível, humana e competente é essencial para aliviar o sofrimento e para respeitar a dignidade e o vínculo afetivo existente. Porque aprender a cuidar em momentos de perda é tão essencial quanto saber preservar vidas.
A Dimensão Invisível da Perda Gestacional e Neonatal
A perda gestacional continua a ser uma realidade silenciosa, apesar da sua elevada frequência.
A Organização Mundial da Saúde estima que, todos os anos, cerca de 2,6 milhões de gravidezes terminem em perda fetal após as 22 semanas de gestação. Para além disso, calcula-se que entre 17% a 22% das gravidezes resultem em aborto espontâneo, muitas vezes nos primeiros meses da gravidez.
Em Portugal,
o Instituto Nacional de Estatística, refere que, em 2022, ocorreram 305 óbitos fetais entre mães residentes no país. Ainda assim, este número poderá não refletir a totalidade das perdas, uma vez que, de acordo com o
Código do Registo Civil, o registo obrigatório apenas se aplica a fetos mortos com 22 ou mais semanas completas de gestação, com algumas exceções.
Importa salientar que a maioria das perdas acontece nas primeiras 12 semanas da gravidez, sendo esta uma fase para a qual não existem estatísticas oficiais nacionais que permitam compreender a real dimensão do fenómeno. Esta ausência de dados reforça a necessidade de maior reconhecimento social, clínico e institucional para uma vivência do luto mais validada e acompanhada.
A Complexidade Emocional da Perda Gestacional e Neonatal
Tão ou mais importante do que os dados estatísticos, estão as marcas deixadas pela perda.
A perda gestacional, de um recém-nascido ou de um bebé nas primeiras semanas de vida tem um impacto devastador na vida dos pais e da família. Para além da dor da perda, surgem frequentemente sentimentos de culpa, isolamento, injustiça e vazio.
É fundamental reconhecer que cada pessoa vive o luto de forma única, influenciada por fatores como o tempo de gestação ou de vida do bebé, as expectativas e projetos de vida, as experiências anteriores de perda ou trauma e o suporte familiar e social disponível.
Validar a dor, respeitar o tempo de luto e oferecer apoio especializado são pilares essenciais para a recuperação emocional.
O Papel dos Profissionais na Humanização dos Cuidados
Os profissionais de saúde desempenham um papel determinante na forma como as famílias vivenciam o processo de perda. Algumas práticas fundamentais para uma abordagem humanizada incluem:
• Comunicar com empatia e sensibilidade: a linguagem deve ser clara, respeitosa e adaptada ao estado emocional dos pais;
• Respeitar o tempo e os rituais de despedida: permitir que os pais segurem, conheçam e se despeçam do bebé, se assim o desejarem;
• Garantir apoio psicológico precoce: identificar sinais de sofrimento e encaminhar para acompanhamento especializado;
• Investir na formação contínua das equipas: é essencial promover competências em ética e comunicação compassiva para uma melhor resposta em situações de perda gestacional e neonatal;
• Cuidar também de quem cuida: reconhecer o impacto emocional que estas situações têm nos próprios profissionais e oferecer apoio.
Uma abordagem centrada na pessoa, respeitadora e empática contribui para minimizar o trauma e promover um processo de luto gestacional e neonatal mais saudável.
Desafios na Prática Clínica
Apesar dos avanços na humanização dos cuidados, persistem desafios importantes:
• Barreiras culturais e sociais no reconhecimento do luto gestacional e neonatal;
• Falta de protocolos institucionais claros para a atuação em situações de perda;
• Dificuldades dos profissionais em lidar com o sofrimento emocional intenso;
• Necessidade de maior articulação entre as equipas médicas, de enfermagem e de apoio psicológico.
Enfrentar estes desafios requer sensibilização, formação e compromisso organizacional para colocar a dignidade e o bem-estar das famílias no centro dos cuidados.
Formação: a chave para cuidados de saúde humanizados
Lidar com a perda gestacional ou neonatal exige competência técnica, escuta, empatia e uma capacidade refinada de estar presente, mesmo quando não há palavras que consolem.
Para os profissionais de saúde, psicologia ou serviço social que acompanham famílias nestes momentos de enorme vulnerabilidade, a formação contínua é essencial para garantir uma intervenção humanizada, ética e cientificamente informada.
A perda de um filho, em qualquer uma das fases de vida, é uma experiência profundamente marcante e, muitas vezes, silenciada. Saber acolher esta dor com sensibilidade e conhecimento é uma responsabilidade que deve ser assumida com preparação sólida.
Nesse sentido, a aposta em formações especializadas permite não só o desenvolvimento de competências clínicas e comunicacionais, mas também o fortalecimento da capacidade de autorregulação emocional por parte dos profissionais.
O Instituto CRIAP disponibiliza várias formações que contribuem para esse percurso de desenvolvimento, entre as quais se destacam:
Webinário “Perda Gestacional e Neonatal”
Este evento é conduzido pela Dr.ª Rita Silva Casalta, especialista em Sexologia Clínica e Psicologia da Saúde, com vasta experiência no apoio emocional em contextos de saúde materna e neonatal.
O que esperar deste webinário?
Neste webinário, vão ser abordados os seguintes temas:
• Introdução à perda gestacional e neonatal;
• Dados sobre a prevalência e impacto da perda gestacional e neonatal;
• Efeitos psicológicos da perda nos pais e na família;
• O conceito de trauma e a sua relação com a perda gestacional e neonatal;
• A importância da humanização nos cuidados de saúde;
• Boas práticas no atendimento humanizado: comunicação e prestação de cuidados humanizados;
• Acompanhamento clínico e apoio psicológico às famílias;
• Desenvolvimento de protocolos de cuidado e apoio multidisciplinar.
Investir em formação é, acima de tudo, um compromisso com o cuidado. Um cuidado mais preparado, mais humano e mais capaz de fazer a diferença quando a vida se interrompe antes do tempo.
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