Dia 26 de agosto assinala-se o Dia Mundial do Cão. Este dia chama a atenção para o papel dos cães na nossa vida, para os cuidados que merecem e para os desafios que ainda enfrentamos enquanto sociedade.
Os cães são, muitas vezes, parte da família, elementos que moldam rotinas, influenciam o nosso bem-estar e acompanham-nos em fases decisivas da vida.
Mas este dia também levanta questões que não podem ser ignoradas: como assegurar o bem-estar animal de forma consistente? Até que ponto as leis de
direito animal são eficazes na proteção dos cães? Como lidar com o
luto pelos animais, uma dor tantas vezes invisível? E, o
papel terapêutico destes animais cada vez mais reconhecido em hospitais, lares e escolas?
Cães e o seu papel terapêutico
A
terapia assistida por animais, onde os cães assumem um papel central, tem vindo a afirmar-se como uma prática com resultados consistentes em diferentes contextos. Os cães tornam-se verdadeiros facilitadores de processos de recuperação e bem-estar, ajudando a alcançar objetivos que, muitas vezes, seriam mais difíceis apenas com intervenção humana.
Em crianças
Com os mais novos, os cães contribuem para aumentar a motivação e a concentração. Criam um ambiente mais descontraído, onde aprender e comunicar se torna menos desafiante. A sua presença ajuda a quebrar barreiras emocionais e a incentivar a confiança, potenciando a aprendizagem e a autoestima.
Em idosos
Nos lares e centros de convívio, a chegada de um cão pode transformar a rotina. Reduz sentimentos de solidão, desperta memórias e estimula a interação entre residentes. Para pessoas em situações de maior fragilidade emocional ou cognitiva, este contacto devolve vitalidade e reforça a ligação ao presente.
Em processos de reabilitação física
Em programas de fisioterapia ou reabilitação motora, os cães são um estímulo extra para a prática de exercícios. Movimentos simples, como caminhar ao lado do animal ou brincar, ajudam a melhorar a mobilidade, a coordenação e a autoconfiança. O envolvimento emocional que criam torna o processo mais motivador e menos pesado para quem está em recuperação.
Bem-estar animal: responsabilidades e desafios
O bem-estar animal é muitas vezes reduzido a cuidados básicos, como alimentação ou higiene, mas a realidade vai muito além disso. Um cão precisa de acompanhamento veterinário regular, de um espaço seguro onde se possa movimentar, de estímulos para se manter ativo e de interação social para evitar o isolamento e o sofrimento psicológico.
Em Portugal, contudo, persistem desafios que mostram que ainda há um longo caminho a percorrer. O abandono continua a ser uma realidade preocupante. Milhares de cães são deixados todos os anos em canis ou associações, muitas vezes fruto de adoções irrefletidas ou da incapacidade financeira das famílias.
As associações de proteção, por sua vez, trabalham frequentemente com recursos limitados, dependentes de voluntariado e donativos, sem apoio público suficiente para responder às necessidades crescentes.
Garantir o bem-estar não é apenas um dever dos tutores, mas um compromisso coletivo. É necessário investir em políticas públicas consistentes, que incluam campanhas de esterilização acessíveis, programas de adoção responsáveis e mecanismos de fiscalização eficazes contra o abandono e os maus-tratos.
A educação desempenha aqui um papel essencial. Ensinar desde cedo que ter um cão implica tempo, dedicação e responsabilidade pode mudar mentalidades a médio e longo prazo.
O bem-estar animal deve ser visto como uma extensão do bem-estar social. Uma comunidade que respeita e protege os seus cães não só melhora a vida destes animais, como reforça valores de empatia, respeito e cidadania.
Direito animal: direitos fundamentais e proteção
O
direito animal representa um campo essencial na defesa da dignidade dos cães e de outros animais, procurando garantir que não sejam vistos apenas como propriedade, mas como seres com necessidades próprias. Este reconhecimento traduz-se em normas que visam proteger o seu bem-estar, prevenir maus-tratos e promover uma convivência mais equilibrada entre humanos e animais.
No entanto, a realidade mostra que ainda existem lacunas significativas. Casos de maus-tratos e abandono continuam a ser frequentes, muitas vezes sem resposta judicial adequada. A fiscalização limitada e a falta de recursos das autoridades dificultam a aplicação prática das leis, enquanto a morosidade dos processos contribui para a sensação de impunidade.
Outro problema é a desigualdade territorial. A proteção de um cão pode depender do município onde vive, já que a capacidade de resposta varia muito entre canis municipais e associações locais, frequentemente sobrecarregadas e com meios escassos.
Para tornar o direito animal verdadeiramente eficaz, é necessário:
• Reforçar a fiscalização, dotando as entidades competentes de mais recursos.
• Aplicar sanções efetivas, que funcionem como verdadeiro desincentivo ao abandono e aos maus-tratos.
• Garantir políticas uniformes, assegurando que a proteção não depende da geografia mas é garantida em todo o país.
Luto por animais de estimação
Perder um cão é como perder um membro da família, alguém que partilhou rotinas, afetos e momentos únicos. O
luto por animais de estimação é uma experiência emocional profunda, mas ainda frequentemente desvalorizada pela sociedade. Muitos tutores sentem-se constrangidos em expressar a dor que vivem, com receio de não serem compreendidos ou levados a sério.
O impacto psicológico pode ser tão intenso quanto o vivido na morte de familiares próximos. A ausência de rituais sociais formais, como funerais ou períodos de luto reconhecidos, torna este processo ainda mais solitário.
Reconhecer esta dor e validá-la é um passo essencial para construir uma sociedade mais empática. Aceitar o luto pelos animais significa aceitar também o valor profundo da ligação humano-cão e o papel insubstituível que desempenham no nosso bem-estar.
A importância da formação para os profissionais da área
O trabalho com cães em contextos de saúde, educação ou proteção jurídica requer formação especializada, que permita aos profissionais unir conhecimento científico e prática, garantindo segurança, eficácia e respeito pelo bem-estar animal.
Psicólogos, terapeutas e educadores recorrem a formações em terapia assistida por animais, aprendendo a estruturar programas que têm objetivos clínicos e pedagógicos bem definidos. Assim como, o apoio no luto por animais de estimação, onde os profissionais desenvolvem competências para ajudar pessoas a lidar com esta perda, validando emoções e oferecendo estratégias de adaptação.
No campo jurídico, os profissionais do direito animal precisam de atualização constante, acompanhando as mudanças legislativas e os debates éticos.
Formação especializada: como preparar profissionais para novos desafios
Para responder a estas necessidades, é fundamental que os profissionais tenham acesso a formação especializada, que lhes permita atuar com rigor científico, sensibilidade e ética.
Especialização Avançada em Terapia Assistida por Animais
Uma
formação completa para quem deseja compreender e aplicar a utilização terapêutica dos animais em diferentes contextos, clínicos, educativos ou sociais. O curso aborda os fundamentos científicos, éticos e legais das Intervenções Assistidas por Animais, com destaque para o papel dos cães, cavalos e outros animais como facilitadores em processos de saúde e educação.
Curso em Direito Animal
Um
curso essencial para profissionais interessados no enquadramento jurídico da proteção animal em Portugal. São explorados os direitos fundamentais dos animais, o estatuto jurídico, os deveres dos tutores e o papel das entidades públicas na sua proteção. Questões como os maus-tratos, a gestão urbana de animais e os desafios legais ligados à família e à sociedade são analisadas de forma crítica e aplicada.
Workshop em Luto por Animal de Estimação
Um espaço de reflexão e aprendizagem para compreender melhor o impacto da perda de um animal de companhia. O
workshop aborda o processo de luto, as particularidades da ligação humano-animal, o risco de luto patológico e as melhores estratégias de intervenção psicológica. Através da análise de casos práticos, os participantes são preparados para oferecer apoio adequado e humanizado a quem enfrenta esta vivência.