A 20 de julho, Portugal assinala o Dia Nacional da Doação de Órgãos e da Transplantação. Mais do que uma data simbólica, é um momento de reflexão sobre a generosidade de quem doa, a esperança de quem recebe e o papel essencial dos profissionais de saúde neste processo de profundo impacto humano.
Doação de órgãos: um gesto que prolonga vidas
A doação de órgãos é uma das maiores expressões de solidariedade que existem. Em Portugal, todos somos potenciais dadores, exceto se tivermos expressado vontade em contrário. Ainda assim, a realidade mostra que muitas decisões são tomadas pelas famílias num momento de
luto, sublinhando a importância da sensibilização para a doação de órgãos.
Falar abertamente sobre o tema, partilhar a nossa posição com os entes mais próximos e compreender os direitos do dador é essencial para garantir que cada gesto de doação é respeitado, ético e consentido.
Os direitos do dador: consentimento, dignidade e transparência
Em Portugal, vigora o princípio do consentimento presumido, mas isso não anula a necessidade de informar e respeitar os direitos do dador. Cada cidadão tem o direito de recusar a doação, inscrevendo-se no
Registo Nacional de Não Dadores, e deve ser garantido que essa decisão seja respeitada sem questionamento.
Para os dadores vivos, os direitos incluem:
• acesso a informação clara e objetiva;
• consentimento informado livre de qualquer coação;
• acompanhamento médico adequado e contínuo.
A dignidade, a confidencialidade e a transparência são pilares fundamentais para assegurar que a doação de órgãos se mantém como um ato voluntário, consciente e eticamente irrepreensível.
O papel dos profissionais de saúde
Por trás de cada transplante bem-sucedido está uma equipa altamente especializada, que atua em diferentes fases do processo.
Sensibilizar e informar em momentos de fragilidade
Médicos, enfermeiros e psicólogos são muitas vezes os primeiros a abordar as famílias em contexto hospitalar, especialmente em unidades de
cuidados intensivos. Esta é uma das tarefas mais exigentes, pois implica lidar com dor, incerteza e resistência.
A
comunicação neste contexto requer formação especializada, escuta ativa e um equilíbrio delicado entre informação clara e empatia. Não se trata de convencer, mas de acompanhar e respeitar, garantindo que a decisão da família seja feita de forma consciente e tranquila.
Acompanhamento clínico e emocional
Nos casos de dadores vivos, os profissionais asseguram o cumprimento de todos os critérios legais e médicos, monitorizando o processo com rigor. Já no acompanhamento dos recetores de órgãos, a responsabilidade prolonga-se por meses ou anos, envolvendo consultas, medicação imunossupressora, prevenção de rejeições e apoio psicológico contínuo.
Desafios para os profissionais: entre a técnica, a ética e a emoção
Os profissionais de saúde que intervêm nos processos de doação e transplantação enfrentam inúmeros desafios clínicos, logísticos e emocionais. Entre eles, destacam-se:
• A gestão do tempo: a captação de órgãos envolve uma logística complexa e sensível ao tempo, com necessidade de articulação entre diferentes hospitais e equipas.
• A pressão emocional de lidar com a morte, o sofrimento das famílias e, em simultâneo, a responsabilidade de garantir a viabilidade da doação.
• A exigência de
comunicar más notícias e, pouco depois, abordar um tema tão delicado como a doação de órgãos.
Estes desafios exigem profissionais tecnicamente competentes, mas também emocionalmente resilientes, empáticos e eticamente bem preparados.
Formação especializada: um investimento que salva vidas
Nenhum profissional está preparado para estes desafios apenas com base na experiência. A formação contínua é um dos pilares para garantir qualidade e ética no processo de doação e transplantação.
Áreas como:
• comunicação em fim de vida;
• avaliação clínica do dador e recetor;
• ética na transplantação;
• cuidados pós-transplante;
• e apoio psicológico à família do dador,
são essenciais para garantir uma intervenção clínica segura, humana e juridicamente sustentada.
A aposta em formação especializada reforça o compromisso das instituições com a qualidade do serviço prestado e com o respeito pelos princípios de dignidade, autonomia e solidariedade.
Nesse sentido, destacamos as seguintes formações especializadas para profissionais e instituições de saúde que pretendem reforçar competências na área da doação e transplantação de órgãos.
Especialização Avançada em Psicologia Clínica e da Saúde
Uma
especialização prática que desenvolve competências em avaliação, diagnóstico e intervenção psicológica ao longo do ciclo de vida. Permite aplicar entrevistas clínicas, instrumentos de avaliação e protocolos de intervenção adaptados a diferentes perturbações psicopatológicas.
Curso de Comunicação na Saúde
Esta é uma
formação essencial para profissionais de saúde que desejam melhorar a comunicação com utentes, equipas e stakeholders. Aborda temas como comunicação centrada no utente, escuta ativa, gestão de conversas difíceis, comunicação intercultural e digital.
Foca-se em estratégias práticas que promovem confiança, empatia e colaboração, contribuindo para melhores resultados clínicos e ambientes de trabalho mais eficazes.
Curso Avançado em Desenvolvimento de Competências de Relação Terapêutica
Este
curso é focado no desenvolvimento de competências relacionais que promovem a mudança terapêutica. Aborda as diferentes dimensões da relação com o paciente, adaptando o estilo relacional às necessidades individuais e às fases do processo terapêutico.
Ideal para profissionais que pretendem potenciar o impacto da sua intervenção através de uma relação mais eficaz, empática e ajustada.