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Dia Mundial da Doença de Alzheimer:
No Dia Mundial da Doença de Alzheimer, analisamos sintomas, fatores de risco, impacto social e estratégias de intervenção, sublinhando a importância da formação especializada dos profissionais de saúde e apoio social.
O Dia Mundial da Doença de Alzheimer, assinalado a 21 de setembro, é um exercício coletivo de memória e de consciência crítica. A cada ano que passa, o número de pessoas diagnosticadas com demência cresce de forma silenciosa, mas ininterrupta.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2021 havia cerca de 57 milhões de pessoas com demência no mundo, número que poderá atingir os 139 milhões até 2050. A Doença de Alzheimer representa 60 a 70% dos casos, afetando em Portugal cerca de 200 mil pessoas, em 2023. Globalmente, a demência é a sétima principal causa de morte e um dos maiores desafios de saúde pública, com impacto económico superior a 1,3 biliões de dólares em 2019.
Não se trata apenas de um problema clínico, mas de uma questão social e económica de primeira ordem. A doença corrói não só a identidade de quem a vive, mas também a estrutura das famílias e dos serviços de saúde que lhe dão resposta.
A Doença de Alzheimer é uma patologia neurodegenerativa progressiva que compromete, de forma sistemática, as funções cognitivas. Ao contrário do que muitas vezes se supõe, não é um resultado inevitável do envelhecimento.
Descrita pela primeira vez em 1906 por Alois Alzheimer, a doença é caracterizada pela acumulação de placas beta-amiloides e emaranhados neurofibrilares, que destroem a comunicação entre neurónios. O resultado é um processo lento, mas devastador: perda de memória, desorientação, alterações de linguagem e, em fases mais avançadas, dependência quase total.
O início pode ser discreto, confundindo-se com esquecimentos banais. Mas há uma linha que distingue o esquecimento normal da deterioração cognitiva patológica.
Principais sinais a observar:
O reconhecimento precoce destes sinais é fundamental para a definição de planos de intervenção clínicos e sociais mais eficazes.
A Doença de Alzheimer é frequentemente descrita como uma “epidemia silenciosa”. Em Portugal, estima-se que os custos diretos e indiretos relacionados com a demência ultrapassem os mil milhões de euros anuais.
O peso recai, em grande medida, sobre os cuidadores informais, geralmente familiares, que acumulam responsabilidades intensas e, muitas vezes, invisíveis. O desgaste físico e emocional destes cuidadores é um fator de risco adicional para problemas de saúde mental e para a rotatividade no mercado de trabalho.
Assim, a doença ultrapassa o campo estritamente clínico, tornando-se um problema estrutural de saúde pública.
A palavra demência não se refere a uma única doença, mas sim a um conjunto de síndromes que afetam o funcionamento cerebral e comprometem a autonomia da pessoa. Apesar de a Doença de Alzheimer ser a forma mais comum, existem outros tipos de demências que apresentam características distintas, exigindo avaliação e intervenção diferenciadas por parte dos profissionais de saúde.
É a forma mais prevalente, responsável por 60 a 70% dos casos. Caracteriza-se por perda progressiva de memória, dificuldades de linguagem, desorientação e alterações de comportamento. A evolução é gradual, mas constante, conduzindo a uma dependência cada vez maior.
2 - Demência Vascular
Resulta de alterações na circulação sanguínea cerebral, muitas vezes associadas a AVC ou a fatores de risco cardiovascular como hipertensão e diabetes. Os sintomas podem surgir de forma súbita e tendem a estar relacionados com défices cognitivos específicos, como dificuldades de planeamento e raciocínio.
Apresenta sintomas semelhantes à Doença de Alzheimer, mas com características próprias, como alucinações visuais, flutuações na atenção e sintomas motores semelhantes aos da Doença de Parkinson. É considerada uma das formas mais desafiantes de diagnosticar.
Surge geralmente em idades mais precoces (antes dos 65 anos). Afeta sobretudo os lobos frontal e temporal, comprometendo a linguagem, a empatia, o controlo emocional e o comportamento social, muitas vezes antes de se verificarem problemas de memória.
Alguns doentes com Parkinson desenvolvem um quadro demencial, que se manifesta através de lentificação cognitiva, dificuldades de atenção, problemas visuais e alterações da memória.
Muitos casos não correspondem a um único tipo. É frequente encontrar a associação entre Doença de Alzheimer e Demência Vascular, o que torna o diagnóstico e o tratamento mais complexos.
Apesar das suas especificidades, todas as demências têm em comum o impacto profundo na vida da pessoa, da família e da sociedade. Para os profissionais de saúde, reconhecer estas diferenças é essencial para uma avaliação rigorosa e para a definição de estratégias de intervenção adaptadas a cada caso.
A Doença de Alzheimer não tem uma causa única. Entre os fatores de risco mais estudados encontram-se:
Embora não exista cura, há evidência consistente de que estilos de vida saudáveis (exercício físico, dieta mediterrânica, estimulação cognitiva e laços sociais ativos) podem reduzir o risco ou atrasar o aparecimento dos sintomas.
A Doença de Alzheimer, tal como outras formas de demência, resulta de uma combinação de fatores biológicos, genéticos e ambientais. Embora não exista, até ao momento, uma cura ou forma garantida de prevenção, a investigação científica tem demonstrado que certos comportamentos e estratégias de vida podem reduzir significativamente o risco de desenvolvimento da doença ou atrasar a sua progressão.
Uma alimentação equilibrada, inspirada em padrões como a dieta mediterrânica, rica em frutas, vegetais, peixe, azeite e frutos secos, tem mostrado benefícios na proteção da função cognitiva. O exercício físico regular contribui para a saúde cerebral ao melhorar a circulação sanguínea e reduzir fatores de risco cardiovascular.
Atividades que desafiam o cérebro – como ler, aprender uma nova língua, tocar um instrumento ou resolver jogos de lógica – podem fortalecer as redes neuronais e aumentar a chamada reserva cognitiva, tornando o cérebro mais resistente ao declínio associado ao Alzheimer.
Hipertensão arterial, diabetes, colesterol elevado e obesidade estão fortemente ligados ao risco de demência. Um acompanhamento médico regular e a gestão adequada destas condições são fundamentais para reduzir a probabilidade de alterações cognitivas.
Depressão não tratada, isolamento social e falta de estímulos emocionais podem acelerar o declínio cognitivo. Manter relações sociais, participar em grupos comunitários e cuidar da saúde psicológica são fatores de proteção cada vez mais valorizados pela ciência.
O sono reparador desempenha um papel crucial na eliminação de proteínas tóxicas associadas ao Alzheimer, como a beta-amilóide. Distúrbios do sono, quando não tratados, podem aumentar o risco de demência.
O tabagismo e o consumo excessivo de álcool estão associados a um maior risco de Alzheimer e outras formas de demência. A sua eliminação é um passo essencial para a proteção do cérebro.
Embora não possamos falar em prevenção absoluta, estas estratégias oferecem uma oportunidade de reduzir riscos e promover a saúde cerebral ao longo da vida. O investimento em literacia em saúde, em hábitos saudáveis e em políticas públicas de promoção da saúde mental e cognitiva representa, assim, um caminho crucial na luta contra o Alzheimer.
Um diagnóstico atempado permite planear cuidados, integrar o doente em programas de estimulação cognitiva e atrasar a perda de autonomia.
Na prática clínica, a conjugação de exames neuropsicológicos, testes de imagem e análises laboratoriais tem permitido identificar a doença em estágios cada vez mais iniciais. O desafio, contudo, é garantir que estes métodos chegam à prática quotidiana dos cuidados de saúde primários, e não apenas a centros de referência.
O tratamento da Doença de Alzheimer continua a ser, em grande parte, sintomático.
Cada vez mais, a abordagem combina ambos os modelos, com um foco multidisciplinar que inclui médicos, psicólogos, terapeutas ocupacionais e assistentes sociais.
Quando as palavras se tornam fragmentadas, comunicar exige criatividade e paciência. Estratégias como o uso de pictogramas, objetos familiares ou estímulos visuais podem ajudar a manter uma relação funcional com o doente.
A comunicação não deve ser entendida como um detalhe, mas como núcleo da intervenção clínica e social, preservando a dignidade e reduzindo o isolamento.
Embora a Doença de Alzheimer seja maioritariamente associada à velhice, existem casos em que os sintomas surgem antes dos 65 anos: trata-se do Alzheimer de início precoce. Frequentemente ligado a mutações genéticas, este tipo de demência manifesta-se através de dificuldades de memória, concentração, linguagem e planeamento, afetando diretamente a vida profissional e familiar de pessoas ainda em plena atividade. O impacto é particularmente exigente, já que muitos doentes enfrentam responsabilidades laborais, financeiras e familiares, tornando indispensável um diagnóstico célere e uma intervenção multidisciplinar para garantir apoio adequado e qualidade de vida.
Portugal tem uma das populações mais envelhecidas da Europa. Este dado, por si só, coloca a Doença de Alzheimer no centro das preocupações da política de saúde.
Os desafios passam não apenas pela criação de unidades de cuidados especializados, mas também pela capacitação de profissionais para intervir em contextos comunitários. A formação contínua, neste domínio, deixa de ser opcional: torna-se condição essencial de qualidade e eficácia.
O Alzheimer não é apenas uma doença que rouba memórias. É uma condição que expõe as fragilidades das nossas sociedades no cuidado aos mais vulneráveis.
Perante um cenário de prevalência crescente, torna-se imperativo que médicos, psicólogos, enfermeiros e técnicos das ciências sociais estejam preparados com conhecimentos sólidos e atualizados. A formação especializada em saúde mental, envelhecimento e reabilitação é hoje uma ferramenta indispensável para quem pretende intervir com rigor clínico, ética e visão integrada.
O Dia Mundial da Doença de Alzheimer é, por isso, um apelo direto à ciência, à prática profissional e à responsabilidade coletiva: compreender melhor a doença é o primeiro passo para cuidar melhor de quem a vive.
A Curso em Terapia Ocupacional nas Demências prepara profissionais para compreender e intervir junto de pessoas com demência, promovendo qualidade de vida, autonomia e bem-estar. Ao longo da formação, os participantes exploram os diferentes tipos de demência, como a Doença de Alzheimer e a Demência Vascular, e aprendem a aplicar instrumentos de avaliação e metodologias práticas para construir perfis ocupacionais completos e definir planos de intervenção individualizados.