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Menopausa e saúde mental: qual a relação e como lidar
A menopausa é um processo natural com forte impacto na saúde mental. Conheça sintomas, estigma social, estratégias de intervenção e a importância da formação especializada.
A menopausa é um marco inevitável na vida de todas as mulheres. Para muitas, é percecionada como o fim de um ciclo (a cessação da fertilidade), mas a sua dimensão vai muito além da biologia reprodutiva. As alterações hormonais e as transformações emocionais que acompanham este período têm impacto profundo na saúde mental, na vida social e na identidade feminina. Ainda que seja um processo natural, continua a ser envolto em silêncio e estigma, o que limita o acesso a cuidados adequados e perpetua desigualdades no tratamento.
Compreender a relação entre menopausa e saúde mental é fundamental, não apenas para as mulheres que a atravessam, mas também para profissionais de saúde, famílias e sociedade. Só assim é possível garantir respostas eficazes, humanizadas e ajustadas às necessidades individuais.
Clinicamente, a menopausa define-se como a ausência de menstruação durante doze meses consecutivos, ocorrendo, em média, entre os 45 e os 55 anos. Contudo, este processo não se limita a um momento específico. Envolve diferentes fases:
Cada mulher vive este processo de forma singular. Algumas apresentam sintomas ligeiros e transitórios; outras enfrentam desafios físicos e psicológicos que comprometem a qualidade de vida. Reconhecer essa diversidade é essencial para evitar generalizações e promover cuidados personalizados.
A transição menopausal caracteriza-se por manifestações fisiológicas que variam em frequência e intensidade. Entre os sintomas mais relatados encontram-se:
Estes sinais, frequentemente desvalorizados, não só afetam o bem-estar físico, como também repercutem no equilíbrio psicológico, criando um ciclo de impacto mútuo entre corpo e mente.
Durante a menopausa, os níveis de estrogénio e progesterona sofrem variações acentuadas. Estas hormonas têm um papel determinante na regulação do humor, na qualidade do sono e na saúde cognitiva. A sua diminuição está associada a:
A saúde mental na menopausa, portanto, não resulta apenas de fatores psicológicos, mas de uma interação complexa entre neurobiologia, ambiente social e perceções individuais.
Para além da componente hormonal, a menopausa carrega implicações sociais e identitárias. Muitas mulheres associam este período a um processo de perda: da fertilidade, da atratividade física ou de determinados papéis familiares. Esta perceção pode intensificar sentimentos de inutilidade, isolamento e insegurança.
No contexto profissional, a menopausa continua a ser um tema invisível. Sintomas como fadiga, dificuldade de concentração e insónia impactam o desempenho laboral, mas são raramente reconhecidos pelas entidades empregadoras. A ausência de políticas de apoio contribui para desigualdades de género no trabalho e reforça a marginalização desta fase da vida.
Apesar de natural, a menopausa é frequentemente representada através de estereótipos depreciativos. A mulher pós-menopáusica é, muitas vezes, vista como “menos ativa”, “menos atraente” ou “menos produtiva”. Este imaginário reforça tabus que silenciam o debate e desencorajam as mulheres a procurar ajuda.
As consequências deste estigma podem ser graves:
Combater este estigma implica uma mudança cultural: falar abertamente sobre menopausa, criar campanhas de sensibilização e capacitar profissionais para uma abordagem empática.
Ignorar a dimensão psicológica da menopausa pode ter repercussões duradouras:
A falta de intervenção transforma uma fase natural da vida numa experiência de sofrimento evitável.
Felizmente, existem múltiplas estratégias que podem atenuar os impactos da menopausa na saúde mental. Entre as mais eficazes destacam-se:
Estas medidas, combinadas, oferecem um suporte integrado que responde tanto às alterações físicas como às necessidades emocionais.
Os profissionais de saúde desempenham um papel central no acompanhamento da menopausa. Para que possam intervir eficazmente, é essencial que:
Este tipo de acompanhamento humanizado promove não só o bem-estar individual, como também contribui para a valorização social da mulher nesta etapa.
Responder aos desafios da menopausa exige profissionais capacitados. A formação especializada em menopausa e saúde mental permite aprofundar conhecimentos sobre avaliação, intervenção e apoio psicossocial. Além disso, dota os profissionais de ferramentas práticas para atuar com sensibilidade e eficácia, integrando ciência, empatia e ética no cuidado.
Um exemplo é o Curso em Menopausa e Saúde Mental: contextualização, avaliação e intervenção, com Natália Mendes, que oferece uma visão abrangente e aplicada deste tema.
A menopausa não deve ser entendida como um ponto final, mas como uma fase de transição que merece reconhecimento, acompanhamento e dignidade. As alterações físicas e emocionais que a caracterizam são reais, impactam a qualidade de vida e requerem estratégias específicas para prevenção e intervenção.
Investir em saúde mental na menopausa é investir na qualidade de vida das mulheres, no equilíbrio social e no desenvolvimento de políticas de igualdade de género. Reconhecer, intervir e formar são passos fundamentais para que cada mulher atravesse esta fase com maior tranquilidade, confiança e autoestima.
O Curso de Menopausa e Saúde Mental capacita profissionais para compreenderem as várias etapas e vivências da menopausa, incluindo trajetórias atípicas. A formação aprofunda os impactos físicos, psicológicos, cognitivos e sociais deste processo, com especial enfoque na Síndrome Vasomotora da Menopausa (SVM) e na Síndrome Geniturinária da Menopausa (SGUM). Os formandos aprendem a avaliar, intervir e aplicar estratégias cognitivo-comportamentais baseadas em evidência, incluindo o protocolo MENOS. São explorados fatores biopsicossociais, culturais e de estigma, integrando uma visão multidisciplinar. O curso inclui ainda a análise de casos clínicos, promovendo uma prática aplicada e orientada para melhorar a qualidade de vida das mulheres nesta fase.