Intervenção Clínica na Perturbação do Espectro do Autismo

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Intervenção Clínica na Perturbação do Espectro do Autismo

Segundo a Organização Mundial de Saúde, estima-se que, a nível mundial, 1 em cada 100 crianças sofra da Perturbação do Espetro do Autismo.

 

Perturbação do Espetro do Autismo - o que é?

 

A perturbação do espectro do autismo (PEA) é uma perturbação do neurodesenvolvimento complexa que afeta a comunicação social, o comportamento e o desenvolvimento de uma pessoa ao longo da vida. A PEA é caracterizada por alterações na comunicação social, padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses e atividades. No entanto, é importante destacar que o autismo é um espectro, o que significa que os sintomas variam em intensidade e em comorbilidades, podendo manifestar-se de formas diferentes em cada indivíduo.

 

Diagnóstico da PEA

 

O diagnóstico da PEA geralmente ocorre na infância, embora possa ser identificado mais tarde, em alguns casos. Os profissionais de saúde utilizam critérios específicos e definidos no Manual Diagnóstico e Estatístico de Perturbações Mentais (DSM-5) para avaliar os sintomas e comportamentos característicos do autismo. O diagnóstico é feito por meio de observação clínica, entrevistas com os pais e familiares, além de avaliações padronizadas, com instrumentos de avaliação específicos para o diagnóstico.

 

A causa exata do autismo ainda é desconhecida. Sabe-se que a genética desempenha um papel importante, com influências tanto de fatores hereditários, quanto de mutações espontâneas. Além disso, estudos têm investigado a influência de possíveis fatores ambientais. No entanto, ainda são necessárias mais pesquisas para se compreender completamente os fatores que contribuem para o desenvolvimento da PEA.

 

A PEA é frequentemente associada a uma variedade de comorbilidades, ou seja, condições adicionais que podem ocorrer junto com o autismo. Essas comorbilidades podem variar na sua prevalência e impacto, e é importante reconhecê-las e tratá-las adequadamente para fornecer um suporte abrangente à pessoa com autismo. Abaixo estão algumas das comorbilidades mais comuns na PEA:

 

Perturbação de défice de atenção/hiperactividade: é frequentemente observada e caracteriza-se por desatenção, hiperatividade e impulsividade. Estes sintomas podem afetar a atenção, o foco, a organização e a capacidade de autorregulação das pessoas com autismo.

 

Perturbação de linguagem: muitas das pessoas com autismo apresentam atraso ou dificuldades significativas no desenvolvimento da linguagem, que vão desde a ausência completa de linguagem verbal, ao uso de linguagem telegráfica, dificuldades na compreensão de linguagem, falta de competências de conversação social ou atraso na aquisição da linguagem escrita.

 

Perturbação do desenvolvimento intelectual: o atraso no desenvolvimento psicomotor pode ser significativo em várias crianças e pode manter-se ao longo da vida, tornando-se numa perturbação do foro intelectual. Esta comorbilidade agrava o prognóstico do autismo devido ao seu impacto invasivo em vários domínios da vida da pessoa, prejudicando de forma acentuada a capacidade de aprendizagem escolar do individuo.

 

Perturbação do sono: Problemas de sono, como dificuldade em adormecer ou manter o sono, são frequentemente relatados nas pessoas com autismo. A irregularidade dos padrões de sono pode afetar o bem-estar geral e a qualidade de vida dos próprios e de toda a família.

 

Perturbações alimentares: Comer seletivo, recusa a determinados alimentos ou restrições alimentares podem ser observados e estas alterações podem ser resultado de sensibilidades sensoriais, rigidez na alimentação ou dificuldades na coordenação motora oral.

 

É importante lembrar que cada pessoa com autismo é única e pode apresentar diferentes combinações de comorbilidades. O diagnóstico e intervenção adequados das comorbilidades são essenciais para garantir o bem-estar e a qualidade de vida da pessoa com autismo. Um plano de intervenção individualizado, envolvendo profissionais de diferentes áreas, como psicólogos, pediatras do neurodesenvolvimento, neurologistas e outros terapeutas, é necessário para abordar as necessidades específicas de cada pessoa e das suas comorbilidades.

 

 

A Intervenção Terapêutica na PEA

 

A intervenção precoce pode começar mesmo antes do diagnóstico formal. Os pais e cuidadores podem observar sinais precoces de atrasos ou diferenças no desenvolvimento, como falta de contato visual, atraso na aquisição da fala, dificuldades de interação social e padrões de comportamento repetitivos. Nesses casos, é recomendado que os pais procurem uma avaliação com profissionais especializados em desenvolvimento infantil, como psicólogos e pediatras do neurodesenvolvimento, para uma avaliação mais aprofundada.

 

Uma vez que o diagnóstico seja estabelecido ou haja suspeita clínica, a intervenção deve ser iniciada o mais rapidamente possível. O cérebro em desenvolvimento apresenta uma maior plasticidade cerebral durante os primeiros anos de vida, o que significa que ele é mais suscetível a mudanças e aprendizagens. Portanto, as intervenções precoces têm maior potencial de impacto positivo se começarem cedo.

 

A intervenção terapêutica é fundamental para melhorar a qualidade de vida das pessoas com autismo. Abordagens multidisciplinares, que envolvem uma equipe de profissionais, como psicólogos, terapeutas da fala, psicomotricistas e pediatras do neurodesenvolvimento, são frequentemente utilizadas. Essa equipe trabalha em conjunto para identificar as necessidades individuais da criança/adulto, desenvolver um plano de intervenção personalizado e fornecer suporte contínuo.

 

A intervenção pode incluir metodologias específicas e programas de intervenção, adaptados às necessidades individuais de cada pessoa. Existem várias metodologias de intervenção que são amplamente utilizadas no suporte de pessoas com perturbação do espectro do autismo (PEA). É importante destacar que cada indivíduo é único e as necessidades e preferências de intervenção podem variar. A escolha da metodologia deve ser baseada nas características individuais de cada pessoa com autismo, levando em consideração os seus pontos fortes, dificuldades e objetivos específicos de intervenção. As principais metodologias de intervenção na PEA são:

 

  • Metodologia TEACCH: Intervenção Pedagógica na PEA

 

A metodologia TEACCH: é uma abordagem que se concentra na estruturação do ambiente e no uso de estratégias visuais para apoiar a aprendizagem e a independência das pessoas com autismo. Esta abordagem procura proporcionar estrutura e previsibilidade por meio de rotinas visuais, sinalização e organização física do ambiente e horários de trabalho. A metodologia TEACCH também enfatiza o desenvolvimento de competências adaptativas e de autonomia.

 

  • Metodologia ABA - quais os benefícios e para quem é indicado?

 

A metodologia ABA é uma abordagem baseada em evidências que se concentra em moldar comportamentos desejáveis e reduzir comportamentos problemáticos por meio de técnicas de reforço e condicionamento. Envolve a aplicação de princípios comportamentais para ensinar competências sociais, de comunicação, académicas e de vida diária. A metodologia ABA é frequentemente utilizada em programas de intervenção intensiva e pode ser implementada em diferentes ambientes, como a escola e o lar.

 

É importante referir que essas são apenas algumas das principais metodologias de intervenção utilizadas na PEA e que existem outras abordagens e terapias complementares disponíveis. Cada abordagem tem suas próprias características e pode ser adaptada para responder às necessidades individuais de cada pessoa com autismo. A intervenção ideal envolve uma abordagem multidisciplinar, onde profissionais de diferentes áreas trabalham em conjunto para fornecer um suporte abrangente e personalizado a cada pessoal.

 

 

Programa PIPA

 

O Programa PIPA – Programa Integrado Para o Autismo é um modelo de intervenção que se baseia em premissas base de algumas das metodologias como TEACCH, mas definiu um método próprio de intervenção que visa a estimulação das áreas do desenvolvimento que se encontram alteradas em função do perfil de cada pessoa com autismo. Promove competências em áreas como: socialização, comunicação, linguagem, cognição, competências académicas, atenção, comportamento, desenvolvimento emocional, desenvolvimento motor, integração sensorial e autonomia pessoal.  Os cuidadores são elementos fundamentais na intervenção da criança e jovem e têm uma participação ativa. O programa é sempre intensivo, tendo um número de horas que pode variar entre 10-30 horas semanais em função da necessidade de cada pessoa e pode ser aplicado em vários contextos da vida da criança.

 

 

Em alguns casos, a intervenção farmacológica pode ser recomendada para tratar sintomas específicos associados ao autismo, como agressividade, obsessões, hiperatividade ou ansiedade. No entanto, é importante referir que não existe uma medicação específica para tratar o autismo como um todo, e o uso de medicamentos deve ser cuidadosamente avaliado e supervisionado por um médico especialista.

 

É importante referir que a intervenção não se limita apenas à infância. A PEA é uma perturbação do neurodesenvolvimento que se manifesta ao longo da vida e a intervenção pode continuar em todas as fases, adaptando-se às necessidades em evolução da pessoa com autismo. Portanto, mesmo que a intervenção não tenha sido iniciada na primeira infância, ainda é benéfico procurar suporte e intervenção em qualquer idade.

 

 

A Inclusão ao longo da vida

 

A inclusão educativa é um aspeto crucial para promover a participação plena das pessoas com autismo na sociedade. A educação inclusiva procura garantir que todos os alunos tenham acesso a oportunidades educacionais, independentemente de suas diferenças. Isso envolve a adaptação do currículo, o suporte de profissionais especializados e estratégias de ensino individualizadas. Além disso, é importante promover a consciencialização e a compreensão do autismo na sociedade em geral, a fim de reduzir o estigma e criar um ambiente mais inclusivo e acolhedor.

 

A sociedade desempenha um papel fundamental na inclusão das pessoas com autismo. É importante promover a aceitação, o respeito e a valorização da diversidade. Iniciativas de sensibilização, campanhas de informação e a criação de espaços inclusivos são passos importantes para garantir que as pessoas com autismo sejam integralmente incluídas em todos os aspetos da vida social, cultural e profissional.

 

 

 

 

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Artigo da autoria de:

Cláudia Bandeira de Lima

Doutorada pela Universidade de Lisboa (Faculdade de Medicina/Letras) com investigação científica sobre aquisição e desenvolvimento da comunicação e linguagem na Perturbação do Espectro do Autismo. É psicóloga clínica no Centro de Neurodesenvolvimento do Centro Hospitalar Lisboa/Norte - Hospital de Santa Maria, consultora científica no Instituto de Saúde Baseada na Evidência da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, Psicóloga no Hospital CUF Tejo e CEO e Diretora Clínica do LógicaMentes – Centro de Neurodesenvolvimento Infantil. Tem especializações avançadas nas áreas do autismo, intervenção precoce e necessidades educativas especiais (Ordem dos Psicólogos). Pertence ao International Consortium for Health Outcomes Measures tendo colaborado na definição de outcomes measures para a PEA. Com mais de 20 anos de experiência nas Perturbações do neurodesenvolvimento, desenvolveu o Programa PIPA - um Programa integrado de Intervenção para o Autismo, com reconhecimento nacional e internacional. Publicou dois livros sobre a Perturbação do Espectro do Autismo e outras Perturbações do neurodesenvolvimento e vários artigos sobre estas áreas.

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