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Redes Sociais, Algoritmos e Likes: Os novos espelhos digitais
Como as redes sociais moldam a autoestima dos jovens? Descubra o impacto digital na imagem corporal e o papel dos profissionais na intervenção.
Muitos jovens já não se olham ao espelho para saber quem são. Olham para o ecrã. É ali que se comparam, que ajustam a imagem, que procuram aprovação. Entre filtros, likes e comentários, as redes sociais tornaram-se os novos espelhos — e nem sempre refletem a realidade.
A forma como os adolescentes constroem a sua autoestima e percebem o próprio corpo está, cada vez mais, ligada ao digital. E isso traz desafios importantes para quem acompanha o seu desenvolvimento psicológico e emocional.
As redes sociais não mostram tudo nem a todos. Mostram o que prende a atenção. Mostram o que gera cliques. E isso, muitas vezes, traduz-se em imagens cuidadosamente editadas, corpos idealizados, vidas sem falhas. O problema? É com isso que os jovens se comparam.
Estudos recentes mostram que grande parte dos adolescentes sente pressão para parecer bem online. Muitos modificam digitalmente a sua aparência, outros evitam publicar fotografias se não se sentirem “perfeitos”. A comparação constante e a procura de validação tornaram-se parte da rotina. E os efeitos já se notam: ansiedade, insatisfação corporal, baixa autoestima.
Gostos, partilhas, comentários. O que antes era uma mera interação tornou-se um barómetro emocional. Quando os “likes” são muitos, tudo parece bem. Quando são poucos, surgem dúvidas: “Será que estou mal na fotografia?”, “Será que não sou interessante?”, “Será que não sou suficiente?”.
É aqui que os profissionais têm um papel essencial. Para além de compreender as redes sociais, trata-se também de perceber como estas moldam a forma como os jovens se veem, como se sentem e como se relacionam. Trabalhar a autoestima, a identidade e a relação com o corpo, hoje, implica também compreender o contexto digital onde tudo isto acontece.
Os efeitos do uso das redes sociais na autoestima e imagem corporal estão sustentados por processos psicológicos bem documentados. A comparação social ascendente, por exemplo, leva os utilizadores a medir o seu valor com base em padrões quase sempre irreais, reforçando sentimentos de inferioridade.
Outro mecanismo comum é a vigilância corporal constante, a monitorização excessiva da própria imagem, fruto da exposição contínua a câmaras, reflexos e conteúdos visuais.
Há ainda a internalização de ideais de aparência, em que os jovens passam a adotar, como referência pessoal, estéticas repetidas e valorizadas online. A validação digital funciona como reforço externo, que influencia diretamente a construção da identidade. Quando estes mecanismos se combinam com vulnerabilidades pré-existentes, como baixa autoestima basal ou crítica corporal frequente, o risco de desenvolver perturbações da imagem e distúrbios alimentares aumenta significativamente.
Estas dinâmicas não devem ser desvalorizadas. São silenciosas, mas têm impacto clínico real — e podem ser o ponto de partida para quadros de sofrimento psicológico e de saúde mental que exigem intervenção especializada.
Apesar de todos os riscos, as redes sociais não são só negativas. Há também projetos, contas e comunidades que promovem a aceitação do corpo, a diversidade, o pensamento crítico. O desafio é ajudar os jovens a encontrar esse caminho, a desenvolver filtros internos — e não só externos — para se protegerem do impacto da comparação.
Isso faz-se com diálogo, com educação, com presença. Não basta alertar para os perigos. É preciso ensinar a interpretar o que se vê, a reconhecer manipulações e a valorizar o que é real.
Para quem deseja aprofundar conhecimentos e intervir com mais segurança no campo das perturbações da imagem e do comportamento alimentar, a Especialização Avançada em Perturbações do Comportamento Alimentar é a formação indicada.
Destinada a profissionais da área da Psicologia e finalistas de cursos na área, esta especialização aborda as diferentes Perturbações do Comportamento Alimentar (PCA) e perturbações alimentares associadas, ferramentas de avaliação psicológica específicas, abordagens psicoterapêuticas e estratégias de tratamento, indicações para o uso de psicofármacos, a importância das equipas multidisciplinares na intervenção, entre outros temas.
Existe ainda um curso para profissionais e estudantes das áreas da Saúde e Educação focado em distúrbios alimentares: Curso de Distúrbios Alimentares para Profissionais de Saúde e Educação.
Para refletir sobre estas questões e explorar estratégias de intervenção com jovens, o Instituto CRIAP promove o webinário “Feeds, algoritmos e likes: Os novos espelhos digitais”, com a participação da psicóloga e investigadora Dr.ª Sandra Torres.
Neste evento, serão abordados temas como a relação entre redes sociais e imagem corporal, o impacto dos algoritmos e da validação digital, e estratégias para promover uma autoestima positiva e literacia digital em adolescentes.
A imagem que os adolescentes têm de si próprios já não nasce apenas do que sentem, mas também, e muitas vezes sobretudo, do que veem refletido no digital. Cabe aos profissionais ajudá-los a separar aparência de valor, aparência de verdade. Porque quando a autoestima depende do ecrã, qualquer falha pode parecer uma rutura. E é nesse momento que o acompanhamento certo pode fazer toda a diferença.