Mesmo no século XXI, a ciência continua a maravilhar-se com a comunicação do bebé. Não é feita de frases, mas de olhares, sons, movimentos e ritmos partilhados. É nesse
tempo anterior à linguagem verbal que se estabelece a base da comunicação humana - e onde começa, também, a escuta clínica.
Durante décadas, o bebé foi visto como um ser passivo, limitado a reflexos e respostas instintivas. Hoje, essa visão está profundamente ultrapassada. A investigação mais recente mostra que, mesmo antes do nascimento, o bebé é um ser ativo, responsivo, capaz de iniciar interações e de procurar o outro com intencionalidade.
Este novo paradigma desafia práticas clínicas, educativas e familiares - e exige uma escuta mais fina e sensível por parte dos profissionais que o acompanham.
O que sabemos hoje sobre o bebé humano
A neurociência perinatal tem demonstrado que o cérebro do bebé apresenta atividade espontânea em estado de repouso desde muito cedo, sobretudo em áreas somatossensoriais, visuais e auditivas.
Estas descobertas comprovam que o recém-nascido não só sente, como interpreta estímulos e organiza experiências, incluindo a experiência relacional.
Entre os principais avanços, destacam-se:
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A competência interativa precoce: desde os primeiros dias de vida (e até no período intrauterino), o bebé mostra preferência por rostos humanos, vozes
familiares e padrões de entoação, ajustando-se ao ritmo da fala e do toque;
• A multimodalidade comunicativa: o bebé utiliza simultaneamente olhar, vocalizações, expressões faciais e movimentos corporais como formas de expressão e ligação;
• A intencionalidade relacional: mais do que reagir, o bebé provoca, responde, espera. Ele participa ativamente na construção da relação.
Estes dados obrigam-nos a reformular a forma como compreendemos e acompanhamos o início da vida. O
bebé já é um sujeito, com agência psíquica e física, que comunica e influencia o ambiente à sua volta.
O bebé na relação: corpo, presença e psique
A comunicação do bebé não se limita a sinais corporais. Ela estrutura-se numa tríade complexa:
• O bebé físico: que manifesta sensações, estados fisiológicos e necessidades básicas;
• O bebé psíquico: que começa a construir representações internas, antecipações e formas de regulação emocional;
• O bebé na relação: cuja existência só se constitui plenamente através do vínculo com o outro.
É nesta triangulação que se inscrevem os primeiros sinais de bem-estar ou sofrimento. Para o clínico, saber ler esta
linguagem exige mais do que observação: exige afinação relacional, disponibilidade emocional e conhecimento técnico específico.
A capacidade de escutar o corpo e o psiquismo do bebé é essencial para a deteção precoce de indicadores de risco, bem como para o reforço de vínculos saudáveis entre o bebé e os seus cuidadores.
A importância de um olhar clínico sensível e informado
Os primeiros meses de vida representam uma janela crítica de desenvolvimento, onde pequenas experiências podem ter impactos duradouros. A presença de profissionais capazes de identificar sinais precoces de sofrimento psíquico, promover o contacto pele a pele, mediar a parentalidade e favorecer o vínculo é determinante.
Neste sentido, o trabalho clínico com bebés deve integrar:
• A observação da expressividade corporal e facial;
• A análise da qualidade da interação mãe-bebé e pai-bebé;
• A validação da experiência emocional da criança;
• A atuação em contextos hospitalares, neonatais e comunitários com equipas multidisciplinares.
Formação: a chave para evolução da comunicação do bebé
À medida que as investigações em
neurodesenvolvimento, linguagem e tudo o que envolve a infância evoluem, torna-se essencial investir em formação contínua que permita integrar os mais recentes avanços científicos na prática profissional.
Só assim é possível interpretar corretamente os sinais dos bebés, responder de forma adequada às suas necessidades e promover vínculos seguros que sustentam o desenvolvimento da criança.
Curso em Intervenção Clínica no Bebé
Este curso oferece uma abordagem atualizada, multidisciplinar e prática sobre a leitura da comunicação do bebé nas suas várias dimensões (corporal, emocional, relacional); a intervenção em contexto hospitalar e comunitário, e o suporte ao desenvolvimento de vínculos saudáveis e à parentalidade ativa.
Este curso é indicado para psicólogos, enfermeiros, neonatologistas, terapeutas da fala, fisioterapeutas, nutricionistas e outros profissionais das áreas da saúde e do desenvolvimento infantil.
Webinário “Bebé do Século XXI: Comunicação no Início da Vida”
• Dr.ª Lília Brito, psicóloga clínica, com extensa formação e prática hospitalar na área neonatal e pediátrica;
• Dr.ª Rosely Perrone, doutorada em Psicologia Clínica, com vasta experiência em avaliação e intervenção precoce no desenvolvimento infantil.
Nesta sessão serão abordados temas como:
• As competências comunicativas do bebé atual;
• A construção da linguagem não verbal e psíquica no início da vida;
• O bebé como ser ativo e relacional;
• A importância da escuta clínica na primeira infância.