No dia 4 de junho, assinala-se o
Dia Internacional das Crianças Inocentes Vítimas de Agressão. Uma data que, longe de ser comemorativa, nos obriga a encarar uma realidade difícil. Milhares de crianças continuam a ser alvo de violência, negligência e maus tratos em casa, nas instituições, na rua ou até em contexto digital.
Num mundo que proclama os direitos da criança em voz alta, mas que os viola em silêncio, este dia representa uma chamada de atenção e à consciência coletiva.
Como surgiu o Dia das Crianças Vítimas de Agressão?
Em 1982, no contexto de conflitos armados no Médio Oriente, a
ONU criou o Dia Internacional das Crianças Inocentes Vítimas de Agressão para denunciar os horrores a que muitas crianças eram sujeitas. Com o tempo, o âmbito alargou-se para todas as formas de violência infantil, em qualquer parte do mundo.
Mais de 40 anos depois, esta data continua a ser não apenas pertinente, mas absolutamente urgente.
Violência Infantil: Quando os Números Falam Mais Alto
Apesar de muitos casos não chegarem a ser conhecidos, os dados disponíveis mostram uma realidade altamente preocupante. Estes números, embora alarmantes, representam apenas uma parte de um problema mais profundo e persistente.
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Segundo a UNICEF, cerca de 400 milhões de crianças com menos de cinco anos sofrem regularmente agressões físicas ou psicológicas em casa.
As diferentes formas de violência
A violência contra crianças pode assumir diferentes formas:
• Violência Física: agressões, castigos corporais, privação de cuidados.
• Violência Psicológica: insultos, ameaças, humilhações, indiferença.
• Negligência: ausência de cuidados básicos e de afeto.
• Digital: cyberbullying, aliciamento online e violência nas redes sociais.
Marcas que ficam para a vida: As consequências na vida da criança
As experiências de violência durante a infância podem provocar danos profundos e com um impacto duradouro. É comum que estas crianças desenvolvam baixa autoestima, dificuldades nas relações interpessoais e sinais de
ansiedade ou depressão. Em alguns casos, surgem também comportamentos autoagressivos ou de isolamento.
Mais tarde, já na vida adulta, o risco de reproduzirem
comportamentos violentos aumenta, perpetuando um ciclo de sofrimento que poderia ter sido evitado com uma intervenção atempada.
Direitos das Crianças: entre a teoria e a realidade
A Convenção sobre os
Direitos da Criança, adotada pelas Nações Unidas, estabelece que todas as crianças devem crescer num ambiente seguro, livre de violência, negligência e abuso. No papel, os princípios são claros e abrangentes. No entanto, a realidade mostra que estes direitos nem sempre são respeitados ou garantidos.
A escassez de recursos humanos e materiais limita a capacidade de resposta das entidades competentes. A articulação entre serviços como saúde, educação, justiça e proteção social é, por vezes, insuficiente ou pouco eficaz, o que dificulta a intervenção coordenada e célere.
Além disso, muitos profissionais enfrentam desafios por falta de formação específica, o que compromete a deteção precoce de situações de risco. Acresce ainda que os processos legais associados à
proteção de menores podem ser lentos, complexos e, por vezes, causar ainda mais sofrimento à própria criança.
Estas limitações revelam um desfasamento preocupante entre o que está consagrado na legislação e o que efetivamente acontece no terreno. Para que os direitos das crianças deixem de ser apenas uma promessa, é necessário transformar os compromissos em ação concreta, sustentada e contínua.
O Papel dos Profissionais na Proteção das Crianças
Os profissionais das áreas da saúde, educação, ação social e justiça têm um papel essencial na identificação e
proteção de crianças em situação de risco. São frequentemente os primeiros a observar sinais de alerta e a estabelecer contacto com contextos familiares fragilizados. Para que possam intervir de forma segura e eficaz, é indispensável que possuam formação adequada e acesso a estratégias bem definidas.
Entre as competências fundamentais para uma intervenção eficaz, destacam-se:
• Saber identificar sinais físicos e comportamentais de abuso ou negligência;
• Escutar a criança com atenção, respeito e sem julgamento;
• Comunicar de forma clara com os cuidadores, quando apropriado;
• Conhecer os procedimentos legais e os canais de encaminhamento disponíveis;
• Atuar em articulação com outros profissionais e entidades.
Estes elementos são decisivos para garantir que a resposta seja não só técnica, mas também humana. Quando capacitados, os profissionais tornam-se verdadeiros agentes de proteção. A sua ação pode interromper ciclos de violência, devolver segurança à criança e contribuir para o seu desenvolvimento saudável.
Por isso, é fundamental continuar a investir na formação contínua destes intervenientes, reforçando a sua confiança, preparação e capacidade de atuação em contextos delicados.
A importância da formação na resposta a este problema
A resposta à violência infantil exige conhecimento técnico e sensibilidade. A formação adequada permite que os profissionais estejam melhor preparados para agir com eficácia, respeitando os direitos das crianças e garantindo o seu bem-estar.
Nesse sentido, destacamos algumas formações especializadas que abordam estas temáticas de forma aprofundada:
Especialização Avançada em Proteção de Crianças e Jovens
Esta especialização capacita os profissionais para intervir em contextos de risco e perigo, através de uma abordagem multidisciplinar. Foca-se na identificação de situações de vulnerabilidade, no uso de instrumentos de avaliação e na aplicação prática da legislação, promovendo uma atuação eficaz e ética na defesa dos direitos das crianças e jovens.
Especialização Avançada em Violência Sexual
A
Especialização em Violência Sexual permite compreender, intervir e prevenir este tipo de violência junto de crianças, jovens e adultos, numa perspetiva sistémica e interdisciplinar. É uma formação é crucial para profissionais de diferentes áreas que, no seu dia-a-dia, podem defrontar-se com uma situação desta natureza. A Especialização é acreditada pela OPP, com 84 créditos na especialidade geral de Psicologia Clínica e da Saúde e nas especialidades avançadas de Psicologia da Justiça, Comunitária e Sexologia.
Curso Avançado em Abuso Sexual de Crianças e Adolescentes
Curso em Prevenção e Proteção Contra os Maus Tratos em Crianças e Jovens
Um curso que tem como foco o reconhecimento de sinais de abuso, a aplicação de técnicas de avaliação e diagnóstico e a adoção de procedimentos adequados em contextos de risco. Promove um olhar crítico e fundamentado sobre as diferentes formas de maus tratos, contribuindo para uma atuação preventiva, ética e eficaz na proteção de crianças e jovens.
Curso em Trauma com Crianças e Adolescentes
Uma formação centrada na avaliação e intervenção em situações de trauma infantil e juvenil, com foco na relação corpo-mente, expressão comportamental do trauma e envolvimento dos cuidadores. Ideal para profissionais que acompanham crianças e jovens em contextos clínicos, educativos ou sociais.
Investir em formação é investir no futuro de uma sociedade mais segura, justa e humana.