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Dia Internacional da Igualdade Salarial: mais do que números, uma questão de dignidade
O Dia Internacional da Igualdade Salarial, assinalado a 18 de setembro, alerta para as disparidades salariais entre homens e mulheres. Saiba causas, impactos e estratégias para promover a equidade no trabalho.
Atualmente, ainda subsistem vozes que defendem que não existe disparidade salarial entre géneros. Embora esta afirmação possa soar bem em teoria, a prática mostra-nos uma realidade distinta: a desigualdade salarial continua a existir, por vezes de forma subtil, noutras de forma gritante.
O Dia Internacional da Igualdade Salarial é um lembrete incómodo de que a equidade remuneratória está longe de ser uma realidade plena - e de que a inércia tem custos sérios: individuais, organizacionais e sociais. Para profissionais das áreas de recursos humanos, gestão, economia, psicologia ou direito laboral, esta data deve ser encarada como um ponto de partida para repensar práticas e assumir responsabilidades concretas na promoção de ambientes de trabalho mais justos.
A igualdade salarial não se restringe ao pagamento do mesmo valor remuneratório entre homens e mulheres em cargos equivalentes. O conceito é mais amplo e implica garantir que funções de igual valor recebam igual remuneração, mesmo quando desempenhadas em setores distintos.
Esta distinção é particularmente relevante para profissionais de Recursos Humanos e gestores de equipas. Muitas vezes, a disparidade não se revela de forma direta na folha salarial, mas antes na atribuição desigual de oportunidades de progressão, na distribuição de prémios de desempenho ou na invisibilidade de funções tipicamente femininas que, embora sustentem a estrutura de uma organização, são raramente reconhecidas e valorizadas de forma justa.
Em 2023, as mulheres na União Europeia receberam, em média, 12% menos do que os homens. Em Portugal, a diferença foi de 8,6%, o que coloca o país na 18.ª posição entre os 27 Estados-Membros.
No entanto, a disparidade salarial vai muito além do número que aparece no recibo de vencimento. Quando se considera o Gender Overall Earnings Gap (indicador que combina remuneração horária, número médio de horas pagas e taxa de emprego), a desigualdade torna-se ainda mais evidente: em 2018, na União Europeia, atingia 36,7%. E, em 2022, a disparidade no acesso ao mercado de trabalho reforçava o problema: apenas 69,3% das mulheres estavam empregadas, contra 80% dos homens.
Esta diferença não é linear ao longo da vida. Em muitos países, o fosso salarial aumenta com a idade, refletindo interrupções de carreira mais frequentes entre mulheres para cuidar de filhos ou familiares. Essa desigualdade prolonga-se até à reforma: em 2020, as pensões das mulheres com mais de 65 anos eram 28,3% mais baixas do que as dos homens.
As causas são múltiplas. Em 2022, 28% das mulheres trabalhavam a tempo parcial, contra apenas 8% dos homens, acumulando ainda mais horas em tarefas não remuneradas. Em 2018, um terço das mulheres interrompeu a carreira para cuidar de filhos, face a 1,3% dos homens. A segregação setorial reforça o problema: quase 30% das mulheres estão em setores como educação, saúde e assistência social (essenciais, mas mal pagos), enquanto um terço dos homens trabalha em áreas STEM, que oferecem salários mais elevados. Mesmo nos cargos de gestão, a disparidade persiste: em 2021, as mulheres ocupavam apenas 34,7% das posições de chefia e recebiam em média 23% menos por hora do que os homens.
Apesar dos avanços legislativos, os dados revelam que a desigualdade salarial é apenas a face visível de um problema mais profundo. A persistência da disparidade mostra que não se trata apenas de números, mas de estruturas laborais e sociais que continuam a valorizar de forma desigual o trabalho das mulheres. Combater este fosso exige medidas de transparência, políticas organizacionais mais robustas e uma transformação cultural que promova a verdadeira igualdade.
A persistência da desigualdade salarial não é fruto do acaso. Está enraizada em fatores estruturais e culturais que moldam o mercado de trabalho. Entre as causas mais relevantes destacam-se:
Para quem atua em consultoria, recursos humanos ou políticas públicas, reconhecer estas causas não como conceitos abstratos, mas como barreiras concretas é fundamental. São elas que influenciam currículos, entrevistas, avaliações de desempenho e, inevitavelmente, tabelas salariais.
A desigualdade salarial não se mede apenas no valor que chega ao fim do mês. Os seus efeitos repercutem-se em múltiplas esferas:
Ignorar o problema tem custos elevados. Para as empresas, significa abdicar de competitividade e inovação. Para as sociedades, representa travar o crescimento económico e alimentar um ciclo de injustiça que continua a afetar metade da população.
Para quem atua em gestão de pessoas ou lidera estruturas organizacionais, o desafio não está apenas em reconhecer a existência da desigualdade salarial, mas em corrigi-la de forma sistemática. Algumas medidas concretas incluem:
Estas práticas não devem ser encaradas como meras “boas intenções”, mas como mecanismos de governação corporativa, capazes de reforçar a reputação organizacional, aumentar a competitividade e contribuir para um mercado de trabalho mais justo.
A igualdade salarial não se resolve apenas por decreto. Exige profissionais atentos, críticos e preparados para intervir em diferentes níveis das organizações:
Mesmo sem cargos de liderança, cada trabalhador pode ser um agente de mudança.
A mudança estrutural nasce não só de políticas institucionais, mas também da pressão individual e da coragem de questionar práticas enraizadas.
A igualdade salarial exige mais do que legislação: requer literacia organizacional e profissionais preparados para transformar princípios em práticas. Gestores, líderes e especialistas de Recursos Humanos necessitam de formação específica em igualdade de género, transparência salarial e políticas inclusivas.
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